COLUNA DE THATY  MARCONDES 
Na área empresarial, trabalhou na implantação de projetos de administração, captação e aplicação de recursos, e ainda em redação e revisão de textos técnicos. Nascida em Jundiaí, reside atualmente em Ponta Grossa/PR, onde exerce o cargo de Conselheira Municipal da Cultura.

1ª quinzena de outubro - Coluna 52
(Próxima coluna: 18/10)


DEI 10 PRO FERREIRA GULLAR


Hoje quase tive um ataque cardíaco, tamanha preocupação com meus atos e desatinos. Bem, vamos do princípio: moro numa pequena grande cidade, pacata, com um talento enorme para artes e cultura. Há escritores em profusão, de todos os níveis, para todos os gostos. Trovadores, sonetistas, contistas, cronistas, contadores de causos, etc. Mesmo nas pequenas vilas afastadas da periferia, já encontramos borracheiros poetas, colocadores de calçada (o adjetivo da profissão parece um palavrão, então me poupo) trovadores, e por aí vai, o talento e o veio artístico pulsante na cidade e da região.

Bem, ocorre que todo ano, o sindicato dos panificadores promove e patrocina o concurso "A POESIA NOSSA DE CADA DIA", dirigida a estudantes de 4ª a 8ªa séries, de escolas públicas ou particulares. Os 15 primeiros colocados têm seus textos impressos em sacos de pães em toda a cidade, e todos os selecionados para o concurso ganham a impressão do texto em livro a ser distribuído em escolas, secretarias municipais e estaduais, fundações culturais da região e do estado.

Cada autor concorre com uma poesia, e as mesmas são escolhidas nessa ordem: primeiro a professora da classe indica os melhores; depois uma comissão da escola e, por último, uma comissão julgadora organizada pela Fundação Cultural Municipal, dá notas individuais. Fui convidada, ou melhor, intimada, a ser uma das votantes finais, por fazer parte do Conselho de Literatura. Odeio julgamentos, mas, não poderia me furtar de participar de tal tarefa. Uma das poesias me chamou atenção, e, me lembro que ainda fiz um comentário à margem: poeta nato. E dei 10 com louvor. Isso há uns 10 dias atrás, antes da apuração final.

Hoje nos reunimos, todos os juízes, para assinarmos o resultado final. Surpresa: o poeta nato era um plágio de Ferreira Gullar, descoberto graças à Internet e ao santo Google, pai das dissipações de erros.

Todos ficamos envergonhados por não termos percebido. Eu, mais ainda, por ainda ter comentado: poeta nato.

Ainda bem que dei 10 pro Ferreira Gullar.

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