Dois eventos importantes ocorreram nos últimos dias, de relevância sem precedentes para os atuais momentos mundiais. Foram estes: a realização do Fórum Econômico Mundial, nos Estados Unidos; e o Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, no Brasil. Díspares em seus propósitos, servem para novas observações e posicionamento do homem moderno.
O primeiro, a economia e a riqueza acima de todas as coisas. O segundo, a necessidade de inclusão em todos os níveis de todos os povos, globalizando ética, condição de vida, conhecimento e tecnologia, dentre outras importantes carências.
Enquanto para o primeiro mencionado, a pobreza é
um detalhe externo, tendo em vista a
acumulação desenfrada e o lucro astronômico como
principal pauta, gargalhando êxitos financeiros astronômicos
e ficando atônitos mediante a recessão mundial que vigora,
pouco importando se 30 mil crianças morrem famintas por dia no mundo;
pouco importando a barbárie do extermínio sustentado no tráfico
ilícito que se vale dos bancos e dos paraísos fiscais para
especularem o genocídio; pouco importando a perplexidade da bizarra
miséria que adorna o estado exangue nos mais diversos continentes
da terra.
No segundo, entretanto, a discussão é
sobre problemas ambientais, vitais, sociais, mundiais, não excluindo
o fator econômico, só que este somente introduzido a serviço
do ser humano, compartilhando na construção de um novo modelo
de desenvolvimento da civilização com uso racional dos recursos
naturais, integração da sociedade, inclusão na civilização
do conhecimento, desconcentração da renda e sustentabilidade
ambiental, social e econômica. Tais propostas são amplas e
contemplam desde a redução dos lixos urbanos, bem como programas
de conservacão de água, políticas compensatórias,
programas emergenciais, concessão de crédito à baixa
renda, financiamento da habitação popular, revisão
do sistema de renúncia fiscal e sonegação, concentração
fundiária, desigualdade de renda e oportunidades, disparidade entre
segmentos sociais, sobrecarga dos recursos naturais, sub-emprego até
a constatação de mão de obra barata e aviltante. E
não só isso, as discussões de tais temas estão
sempre na pauta dos encontros e debates, e todos compreendem que o desenvolvimento
sustentável é aquele que atende às necessidades do
presente sem comprometer as possibilidades de atendimento das necessidades
das
futuras gerações. Uma sustentabilidade ecológica,
ambiental, social, política, demográfica e cultural.
Temas que se ampliam com a necessidade de uma gestão dos recursos
naturais e hídricos, do solo, da diversidade biológica, florestais,
da fauna e da flora; da qualidade do ar e proteção à
atmosfera; do saneamento, do acesso à terra e do déficit
habitacional; do transporte e trânsito, do emprego, da energia; da
mortalidade infantil e esperança na qualidade de vida, saúde,
educação; concentração/distribuição
de renda, moradia, violência e segurança pública; da
situação social dos afro-descendentes, das mulheres, dos
da melhor idade, das crianças; e de uma série de outras tantas
providências necessárias que contemplem todo cidadão
onde quer que ele esteja.
Vale dizer que não são temas novos,
mas que se arrastam na hipocrisia e na ausência de
vontade política dos governantes e dos insensíveis donos
do mundo.
Vale mais lembrar que há 10 anos, 170 paises consignaram na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, aprovando a Agenda 21 com os compromisos acordados pelos signatários atinentes ao papel ambiental, econômico, social e político, com discussões de uma agricultura sustentável, cidades sustentáveis, infra-estrutura e integração regional, gestão dos recursos naturais, redução das desigualdades sociais e ciência e tencologia para o desenvolvimento sustentável em todo mundo. Isto é, discute-se ainda hoje o que não foi cumprido até agora, provando a vista grossa governamental e a completa desconsideração com o ser humano.
Pior: a maior potência do mundo e dona da maior democracia do planeta, nega-se a subscrever o Tratado de Kyoto, como se as corporações fossem mais importantes que as pessoas. E o Brasil não foge a essa regra: privilegiando bancos e rasgando o Código de Defesa do Consumidor; Justiça beneficiando construtoras em detrimento de dezenas de centenas e milhares de não sei quantos moradores; Banco Central determinando cobrança de juros que estraçalham a Constituição brasileira; modificam a CLT para atender reclamos de empregadores, desconsiderando empregados; cobram tributos abusivos para muitos achatados pela política econômica, enquanto isentam volumosas fortunas e especulações. E o pior que entra governo e sai governo e o Brasil continua imundo e empestado.
Nos próximos meses estará ocorrendo mais uma Conferência Mundial como a que tivemos no Rio de Janeiro. E, por isso, é preciso vigilância se queremos que nossos filhos ou netos não nos responsabilizem pela omissão de fabricarmos amanhã um mundo tão funesto e tão nefasto para eles, zilhões de inocentes. Vamos nessa.
Luiz Alberto Machado