Essa é a história de um colega, atente para o detalhe – eu disse história e não estória, claro que para não haver retaliações e protestos agressivos, limito a guardar a verdadeira identidade das pessoas envolvidas. Talvez alterando um pouco a ordem dos fatos mas nunca fugindo do acontecimento principal que se passou num supermercado de uma cidade grande. Vou chamar meu colega de Cristovão, começarei relembrando o fim de semana que prometia, na sexta a galera indo para o litoral, outros empolgados com os bailinhos, Cristovão que é super pacato queria só descansar e curtir o final de semana ao lado da esposa, graças a Deus chegou o domingo, estava ensolarado, diga-se de passagem um dia escaldante, como de praxe um almoço com a família no domingo. Nada de anormal até que lembrou domingo pela manhã que tinha que levar maionese para a casa dos sogros, e isso já era 10:30 - tudo bem disse ele, passamos no mercado, é rapidinho. O sol estava causticante o asfalto tremulava com o calor, os termômetros marcavam 37 graus Célsius, podia-se fritar ovo no asfalto, lá chegaram no supermercado era 11:00 com previsão de uma compra super rápida, não levaria mais do que 10 minutos. Como sempre um bendito flanelinha se prontificou para cuidar do carro, Cristovão que não é mineiro mas é mais desconfiado que potro desmamado na marra, resmungou qualquer coisa ininteligível para o garoto. Como todo bom consumidor, da maionese veio a cesta básica: sorvete, chocolates, wafer, refrigerantes, balas, pé-de-moleque, amendoim e outras guloseimas. Enquanto sua esposa passeava pela seção de CDs ele indeciso na seção de auto escolhendo entre qual melhor pneu pretinho levar, dúvida cruel, resolveu que deixaria para a próxima visita ao mercado, pois seu relógio já marcava 11:55 – vichi uma hora dessa a sogra está quase tirando o frango do forno, e já prepara o molho da bella macarronada.
Pagaram as compras estavam a caminho do carro, quando percebeu que deveria ter deixado o carro estacionado na sombra devido ao calor. O sol estava mais insuportável, de repente percebeu que pisou em algo, quando olhou para o chão aquela gosma de chiclete na sola do tênis. Aquilo irritou-o, mas tudo bem hoje é domingo, nada que uma boa esfregada no asfalto quente não resolvesse seu problema, chegando no carro o flanelinha com sorriso de orelha a orelha na expectativa de ganhar uns trocados. Foi quando ele percebeu que o pneu estava furado. Naquela hora definitivamente ele achou que não teria um bom domingo, ele não sabia se esganava o pivete, se abria a porta do carro primeiro ou pegava o macaco no porta-malas, uma coisa ele tinha certeza: o chiclete ainda tinha ficado grudado na sola, pois tentava bater o pé impaciente e notara que o pé grudava no chão a cada batida. O calor fazia escorrer suor, deixou as compras dentro do carro e foi a luta para trocar o pneu, arregaçou as mangas e começou a levantar o carro, a medida que macaqueava a camisa grudava no corpo e a raiva tomavam conta dele. O flanelinha ao lado esquerdo dele só de olho, a esposa sua fiel escudeira ao lado direito, enquanto pensava que não deveria ter saído da cama aquela manhã, um engraçadinho passou ao seu lado e disse: - e ai amigo que horas para trocar pneu heim??? E deu uma gargalhada, Cristovão pensou em perguntar como ia a mãe do camarada mas achou melhor não comentar. Começara afrouxar os parafusos, mas como sempre, teve um que emperrou, nisso sua esposa pergunta se o lado que ele está afrouxando é o certo, se ele não está apertando ao invés de soltar. Ele suspira manda ela ir para dentro do carro. No afã de terminar o serviço mais rápido possível ele força o parafuso, de repente escapa a chave de roda, e ele esfola o dedo no chão e a chave bate no joelho, ele era capaz de cantar o hino da república tcheca em latim de trás para frente.
Sem pensar duas vezes ele praguejou e chutou o pneu, nisso soltou o macaco e caiu sobre a roda. Foi quando veio como se fosse um inspiração divina, no meio daquele caos ele lembrou do filme “Um dia de fúria”. Recordou que assistiu 3 vezes mas não tinha achado uma satisfação coerente para Michel Douglas ficar tão irado daquela forma, mas agora caia como se fosse uma luva a reação do ator. Nisso a esposa lembra a ele que o sorvete está derretendo e que faz muito calor dentro do carro, não se deu por vencido macaqueou novamente o carro e conseguiu soltar o bendito parafuso. Nessa altura do campeonato estava só de bermuda e sem camisa suado como um cavalo velho, não sabia o que doía mais se era o dedo, o joelho ou as costas que ardiam pelo calor escaldante. Quando ele olhou para o relógio marcava 14:45 olhou furiosamente para o flanelinha pronto para esmurrar o pobre garoto no menor sinal de qualquer comentário, mas o pobre garoto não arriscou seu pescoço em abrir a boca. Cristovão conseguiu chegar na casa dos sogros as 15:00 o coitado do frango estava só a metade, estorricado e frio, a maionese quente, a macarronada parecia massa de torta salgada e o sorvete, bem o sorvete o garoto do estacionamento se divertiu fazendo um milk shake com o pote que ganhou da bondosa esposa do Cristovão. O final de semana não foi como ele gostaria, mas tudo bem, tirando a raiva o que sobrou foi um vermelhão que durou uns três dias, depois descascou igual cobra trocando de pele.
Henrique Antonio Guedes