Mesmo sem rumos pré-definidos na nossa maturação
política, vejo chegar a hora de renegarmos “jingles” pré-eleitorais
que mais parecem conversas para bois dormirem ou chochas e repetitivas
cantigas de vagas e brumosas sereias do passado mítico. Precisamos
acordar e não de cantigas de ninar. Estamos exaustos e desesperançados
com tanta corrupção e incompetência ou alienantes imobilidades.
Sim, precisamos muito mais de alianças políticas que nos
garantam governabilidade do que de efêmeras e desgastáveis
vitórias eleitorais. Quando o “quebra-cabeça” do poder é
muito complexo e vertiginoso ou quase impossível qualquer grau de
coerência, prefiro trocar abruptamente de assunto e passar a falar
de cinema. Ou de versões cinematográficas sobre este nosso
mundo. Assistindo A voz da lua , último filme de Federico Fellini,
tive a sensação de que não só o consumismo
e as hierarquias remanescentes na Europa pós-moderna foram os seus
alvos. Woody Allen também. E por falar em Fellini, achei tão
amargamente pós-felliniano o filme A vida é bela !...
Quanto ao filme O carteiro e o poeta nele percebi os nexos históricos
entre as esquerdas do sul da Itália e as do cone sul da América
do Sul e as tendências machistas que idolatravam através de
imagens poéticas o “feminino”. Assim também procedia o poeta
carioca Vinicius de Morais. Fellini, diante disto, e sem ser gay, foi arrasador.
E sem dar explicações aos seus telespectadores a Tv Globo
acabou com o Pit – bicha!... Por que será?
Também vi na Tv Record há pouco tempo um filme sobre
a eliminação física do poeta espanhol Federico Garcia
Lorca na Espanha Franquista. Um filme que tinha Andy Garcia em seu elenco.
O peso sinistro e policialesco do fascismo paira ao longo deste relato
cinematográfico.
Recentemente um amigo português comentou comigo sobre o filme
Infidelidade dirigido pela importantíssima Liv Ulmann, ex-mulher
e atriz muito presente na filmografia de Ingmar Bergman. Enfim, arte é
vida. Uma casa vazia é signo de morte. Violência é
manifestação de desnorteio, de descaminho, de ausência
de perspectivas.
Para muitos a vida após os cinqüenta anos é uma
constante compulsão maqueadora e ocultadora da iminência do
fim. Quase sempre, apesar de tudo, a juventude hegemônica ainda é
imaginada como idade da plenitude e do apogeu. O que é , para mim,
discutível. Vivemos sob uma ditadura de valores “jovens”?
James Joyce e Fellini se complementam e tinham razão. “Após
sossegar o dia e a noite/ penso/ perdi o silêncio/ a liberdade de
voar/ depois de ter solto o tempo/ da caixa do relógio/ que governava
as horas e as semanas/ numa parede/ e badalava a chegada do Domingo/ como
uma festa de fatos e rituais/ missa, almoço em família, passeio
ao jardim.............. longe/ está longe o poema da infância/
só a palavra está perto.” (trecho do esboço de um
poema de José Augusto de Jesus Antunes – psicólogo e poeta
português contemporâneo).
Minha amiga Eliana (de Santos – SP) — nunca acreditou em The End.
José Luiz Dutra de Toledo