FIM DO MUNDO

Segunda-feira, dia 9 de agosto, a empregada não apareceu. Já entrei em pânico: será que está doente – morrendo – morta? Ou então quer aumento – férias – cesta básica! Ou sei lá o que, só para me encher o saco! Nem consegui trabalhar. Fui na lavanderia, empunhei a vassoura, o esfregão, o Limpa Tudo e o Tira Manchas. Às 11 da manhã, já havia limpado a cozinha e todo o andar de cima. E nada da empregada. Às duas ela me liga:

—      D. Dalva, eu só queria lhe avisar que não vou trabalhar mais, não.

—      Mas Laurinha, você não pode fazer isso. Você precisa dar aviso prévio, menina.

—      Preciso não, D. Dalva. É o fim do mundo, sabe.

—      Que fim do mundo, Laurinha?

—      Quarta-feira, D. Dalva. Não me diga que a sra. não ouviu falar do fim do mundo?

—      Pelamordedeus, mulher. Isso é besteira! Que fim do mundo que nada!

—      Não blasfeme, D. Dalva, que horror! Para que eu vou voltar ao trabalho, se vamos morrer na quarta-feira?

—      Laurinha... Laurinha? Laurinha!!!

Mas ela desligara. Provavelmente para se reunir aos amigos da igreja, entoando hinos e esperando pela redenção prometida.
 
 

Na quinta-feira cedinho, Laurinha estava na porta.

—      E o que houve com o fim do mundo, Laurinha?

—      Ah, D. Dalva, ele aconteceu, é claro. Só que foi tudo espiritual, sabe? Nós é que entendemos tudo errado. Agora o Príncipe deste Mundo está entre nós, e vai se manifestar! E depois de sete anos e meio, o Redentor vai vir, e nos resgatar...

—      É, Laurinha. É bem provável. Olha, pega a vassoura ali na lavanderia, ok? Eu vou voltar pra cama. No próximo fim de mundo você me dá aviso prévio, ok?

—      Tá bom, D. Dalva, tá bom. Bom sono, viu?

E lá se foi ela, entoando um hino.

Dalva Agne Lynch

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