NO VALE-TUDO DA ELEIÇÃO

Infelizmente já estamos acostumados, nesta fase que antecede importantes eleições, no Brasil, a assistir a um show de baixarias, geralmente lideradas por pessoas que almejam alcançar o honroso cargo de Presidente da República. Neste lamentável vale-tudo a ética e a verdade são as primeiras a serem atiradas ao lixo.

Acusações de todo tipo, ora com provas, ora sem prova alguma, não importa, para pessoas desse jaez os fins justificam os meios. Ligam o ventilador e atiram de tudo em todos que possam lhes representar ameaça. O único que não sofre este tipo de agressão é o Sr. Enéas, por motivos óbvios.

Os demais não se olham como adversários, mas como "inimigos", pelo menos antes da realização do primeiro turno das eleições, embora mais para a frente acabem por fazer alianças. Enfim, para estar, mesmo que sentado de lado, no poder, vale de tudo mesmo. É o que chamam de "jogo político"!!

No dia 24/maio, saiu em todos os órgãos da imprensa brasileira, e em jornais da TV, as contundentes declarações, não de um político, mas do presidente da CNBB. Dom Jayme Chemello, se referiu às declarações de autoridades brasileiras, entre elas o Ministro Malan. Disseram aqueles senhores que a economia brasileira se desgorvenaria no caso de uma vitória de algum candidato oposicionista nas próximas eleições presidenciais.

Houve quem chegasse ao extremo de afirmar que, inclusive, o país correria o grave risco de vir a ter que enfrentar uma crise como a que abala atualmente nossos vizinhos argentinos. E pensar que o Sr. FHC tem dito e repetido que jamais seu governo interferiria, de qualquer forma, no processo eleitoral. Palavras, só palavras.

D. Jayme classificou aquelas infelizes "previsões" de pessoas intimamente ligadas ao atual governo de "terrorismo". Textualmente chegou a dizer: "Talvez usem a política do medo para ganhar as eleições. Quem garante que, realmente, essas previsões se confirmarão?"

Por outro lado, quem tem internamente autoridades a propalar essas barbaridades, nem precisa da "ajuda" eventual de banqueiros estrangeiros para pôr em descrédito o futuro de nosso país.

Aliás, diga-se de passagem que a agência americana Merrill Lynch, que tentou aterrorizar o mercado internacional com informações, sem nenhum fundamento, sobre os "sérios riscos" que representaria o Brasil, para seus investidores, caso o Sr. Lula venha a vencer as eleições, acabou tendo que morder a língua e provar do seu veneno. Li na coluna do excelente jornalista Argemiro Ferreira, em 24/maio, o seguinte:

"Pois agora o procurador-geral de Nova York, Eliot Spitzer, forçou a cúpula da Merrill Lynch a engolir o que dizia - e, como castigo, a empresa está obrigada a pagar US$ 100 milhões de multa e se comprometer a não repetir as malandragens. Foi uma vitória do procurador-geral, já que a SEC (Securities and Exchange Comission), reguladora federal do mercado, tentava um "acerto" ilusório com os vilões."

Muitos disseram, inclusive este aprendiz de escritor, que as "denúncias" daquela agência e de uma outra, na mesma época, visavam muito mais a derrubar títulos e ações várias, o que acabou acontecendo, para que eles, os "malandros", as comprassem na baixa e depois forçassem uma alta para ganhar ótimos lucros. O que também acabou ocorrendo. A divulgação desta estratégia e do seu final esteve na mídia brasileira durante vários dias. Agora é só dizer: Bem feito.

Voltando ao presidente da CNBB, na mesma entrevista ele afirmou que "o papel da igreja, nas eleições, será o de ajudar o povo a pensar." Concordo amplamente com Dom Chemello, e reafirmo aqui o que eu já disse certa vez:

"Evangelizar e conscientizar as pessoas da importância do seu papel como criaturas de Deus e como cidadãos. Num país como o nosso, onde algumas dezenas de milhões de brasileiros e brasileiras, sobrevivem à míngua de quase tudo, sem teto, com um salário indigno, quando o têm, sem direito à terra, muitos deles prostrados abaixo da linha da miséria, louvo esta postura de grande parte da igreja católica."

Pelo menos assim vamos contrabalançando o jogo sujo desta fase pré-eleitoral e procurando despertar consciências, pelo país afora, já que é mais do que notória a desinformação de grande parte de nossa gente, não bastassem as sérias deficiências de uma educação mal direcionada. Sem esquecermos de que em muitas regiões ainda prevalecessem, em pleno século XXI, o tal "voto de cabresto", ou o "coronelismo".

Os partidários de que "os fins justificam os meios" valem-se, ardilosamente, de uma boa dose dessa desinformação e até mesmo da ingenuidade de grande parte de nosso povo. Alguns chegam ao extremo, não só de vasculhar a vida particular de seus adversários, mas até de inventar, de montar provas e denúncias as mais descabidas. Transcrevo aqui o que eu escrevi em crônica de uns 2 meses passados:

"Recorda-se daquele ano de eleição em que haviam seqüestrado o Sr. Abílio Diniz? Por uma "coincidência" ele foi libertado justamente na reta final para as eleições presidenciais. Faça um exercício de memória. Recorda-se de que os tais seqüestradores, estrangeiros, ao se renderem, saíram do cativeiro, convenientemente vestidos, todos, com camisetas de propaganda do Lula?

O fato em si era tão ridículo, tão grotesco, tão inverossímil, que não deveria ter merecido o crédito de ninguém. No entanto, aquele episódio, aquela farsa, montada provavelmente pela própria polícia, cumprindo ordens sabe-se lá de quem, influiu e muito em tanta gente na hora de votar. O efeito apareceu logo nas pesquisas de opinião pública divulgadas a seguir.

Ali, não apenas ligaram o ventilador, mas nele atiraram algo tão abjeto que num país onde ao povo seja propiciada mais educação, mais cultura e informação, simplesmente teria sido desprezado e, se efeito houvesse, seria de bumerangue, com os autores da farsa sendo desmascarados. Mas, aqui foi diferente."

Pois é, amigos, assim agem pessoas sem o senso de moral e ética, para as quais caráter deve ser uma qualidade desprezível. E elas estão por aí, à espreita, prontas para novos atos vis, infames, a custo de Judas. Quem pagar mais poderá contar com sua dedicação, seu trabalho, sua "fidelidade".

Pesquisas do momento nada querem dizer quanto ao que poderá ocorrer realmente durante as próximas eleições. Já vi este filme algumas vezes. Ademais há bons candidatos fazendo oposição ao atual governo. Não me refiro a todos, claro. Se os ataques tornam a se voltar mais contra o Sr. Lula, é simplesmente porque ele está novamente liderando as pesquisas. Fosse outro o líder, receberia a mesma fuzilaria da parte dos demais. Não tenho a menor dúvida.

Prefiro encerrar com palavras sérias, responsáveis, do que aludir a mais alguma baixaria, a mais alguma sordidez dessas que alguns grupos políticos não têm nenhum escrúpulo em fazer uso para tentar usufruir de alguma vantagem eleitoral.

Assim, termino com este trecho que inicia uma carta aberta da Comissão da Pastoral do Trabalhador, aprovada pelo arcebispo do Rio de Janeiro, D. Eusébio Oscar Scheid, lida na missa do Dia do Trabalhador, na Catedral do Rio de Janeiro:

"Em um País tão rico como o nosso, é escandaloso que milhões de pessoas ainda passem fome. A fome continua sendo o maior flagelo e mata mais que todas as guerras. Não se trata de falta de alimentos. O trágico está em que em um País onde, ano após ano, as safras de grãos são cada vez maiores, não se possa assegurar o acesso de todos à alimentação necessária".

Francisco Simões

« Voltar