Afinal será que terrorismo se resume apenas a um ou a poucos grupos de fanáticos criminosos e suicidas? Quantos grupos existem pelo mundo a praticar o terror? Quantos terroristas terão que ser mortos, ou quantos grupos deles terão que ser aniqüilados para extirpar-se da face da terra o terrorismo?
Certamente que não são centenas nem milhares, a julgar por tudo que já se leu sobre suas atividades criminosas em vários lugares. Certamente são muito mais. Também se sabe que eles não estão localizados apenas em um ou dois ou três países, nem em apenas um, ou dois, ou três continentes. Como descobri-los?
Quantos inocentes terão que pagar com a vida para se chegar ao propalado "fim do terrorismo mundial"? Isso não conta, não preocupa os atuais "caçadores de terroristas"? Ademais, eliminar o terrorismo, é uma tarefa possível, ou apenas demagógica? Ou uma forma de oferecer oportunidades de maiores lucros aos mercadores de armas?
Por outro lado sabe-se que diversas são as causas defendidas pelos agentes do terror, segundo apregoam. É claro que nada justifica a covardia com que agem, a crueldade de seus métodos, o matar pessoas, em sua maioria inocentes, embora em suas mentes, doentias ou não, suas vítimas têm sempre alguma culpa por terem uma "postura de indiferença" no que tange às causas que dizem defender.
Se nos referirmos ao terror praticado pelo grupo ETA, que tem sede no norte da Espanha, mas age em quase todo o país, poderíamos imaginar que se a própria Espanha e a França tivessem um dia a boa vontade de devolver as terras reclamadas pelos bascos, o problema de sua independência do poder central espanhol talvez fosse até minimizado.
Hoje em dia o próprio povo basco não aprova os métodos traiçoeiros, covardes e criminosos dos terroristas do ETA, todavia a raiz de tudo continua a existir. Parece que este não é um problema insolúvel, mas desde que envolve aspectos e interesses políticos não há perspectiva de se chegar a uma paz desejada. O ETA existe como partido político e tem inclusive representação no congresso espanhol.
O terrorismo do IRA tem causas também delicadas que envolvem diferenças religiosas mas, principalmente, a presença da autoridade inglesa na Irlanda, que historicamente não é desejada. A Inglaterra vai pondo panos quentes, reprime aqui, tenta acordos ali e empurra sempre para a frente qualquer solução definitiva. Interesses políticos falam sempre mais alto.
Parecia que o IRA baixara as armas, mas após aquele teatral ato de "pacificação", há algum tempo atrás, já ocorreram novos atos de violência. Quantos homens, mulheres e crianças já morreram em atentados e mesmo nos choques de rua onde o ódio religioso, exacerbado, mata sob o olhar do mesmo Deus? Não esqueçamos que o IRA é de inspiração católica. Apenas um detalhe.
Atualmente os terrorismos reinantes no Oriente Médio se confundem entre o de “homens-bombas”, palestinos, e o de tanques, mísseis e tudo o mais que emprega o governo de Israel. As hostilidades alcançaram um nível tal, incentivadas pela intolerância de ambos os lados, que fica difícil se imaginar o fim de tantos conflitos, agressões e mortes, muitas mortes, em futuro próximo.
Pensar em diálogo, em busca de um novo caminho que os conduza à paz definitiva, infelizmente é quase inacreditável. Governos de outros países que vivem a pedir prudência, equilíbrio, bom senso, entendimento, a judeus e a palestinos, pecam por também só terem a oferecer maus exemplos, justamente no sentido contrário ao de suas palavras, que se insinuam “pacificadoras”. Hipocrisia pura.
O terrorismo que atua na Ásia e que tem empurrado Índia e Paquistão para um possível confronto de conseqüências imprevisíveis, ou mais um, tanto para seus povos como para a própria humanidade, segue o mesmo script. Parece que muitos seres humanos naufragaram definitivamente na barbárie, afogando a razão, a sensatez, o direito, a justiça.
Outros grupos terroristas usam causas as mais variadas para justificar suas ações. Deveremos ignorá-las e simplesmente sair matando-os pelo mundo afora, onde quer que sejam apontados, desprezando as conseqüências inevitáveis de tantas vidas humanas, inocentes, claro, que também serão eliminadas?
E as reações no sentido contrário? Quem se responsabiliza pela segurança das populações desses países “valentões”? Querem mais vítimas inocentes em seu próprio território? Que discurso usarão para continuar iludindo seu povo?
Por outro lado, basta fechar os olhos a tanta miséria, tanta doença, tanta fome, tanta injustiça, tantas questões mal resolvidas? Basta fazer uma lista de países-alvos, porque um ou dois governos decidem elegê-los como “inimigos”, mesmo sem culpa bem formada, e sairem a bombardeá-los da forma mais cruel e covarde?
Não é uma forma simplista demais de encarar o problema do terrorismo, desprezando as verdadeiras causas? Não estaremos também praticando o terrorismo de governo, oficial, usando uma força desmedida, despropositada, matando com uma determinação que nos iguala aos terroristas, no ódio, na vingança, na crueldade, no radicalismo, na sede de matar?
Choramos nossas vítimas inocentes, mas e as que faremos entre eles, ou as que já fizemos antes, também aos milhares, com certeza? Será que apenas diremos: bem feito?! A recíproca não será verdadeira?
Se autoridades, civis ou militares de alguns países assim consideram este problema, com certeza já perderam a noção de racionalidade, de humanismo, de ética, de lógica, de justiça social, de cristianismo, enfim, só lhes deve ter restado a estreita e não menos aterradora visão bélica, o poder da força, olhando seres humanos, culpados ou inocentes, como simples "caças", ou estatísticas. Lamentável.
Francisco Simões