Há
dias, assentado numa clínica médica, enquanto
esperava minha vez de ser atendido, folheava as revistas de
sempre com as notícias de sempre. Reportagens com a
Xuxa, o Lula, o José Serra, o Guga e a Ana
Maria Braga saturavam os meus olhos e esgotavam a minha
paciência pois se repetiam “ad nauseam”. Joguei a revista
para um lado e vi uma jovem baixinha, trajando um vestido que ia até
os pés, com um penteado de rabo de cavalo, passando, rapidamente,
pela extensão da sala para ir ao bebedouro. Atrás dela vinham
mais três crianças, seus filhos, que gritavam mais do
falavam, “mamãe, mamãe”. Ela não se alterou
e com maior paciência deu de beber à sua pequena prole.
Para mim foi um momento de beleza.
Olhei mais uma vez, procurando ser discreto, para a jovem mãe
que mostrava uma gravidez num estágio bem avançado.
Ela não desfilava o ventre e nem o umbigo, como
fazem algumas gestantes num modismo de tremendo mau gosto. Seu vestido,
inteiriço, compunha uma forma harmônica e dava àquela
jovem um aspecto agradável, e no meu pensamento disse para ela:
“Como você é linda”.
Saciada a sede dos filhos voltou para o seu lugar e percebi
claramente que no seu andar havia um certo orgulho. Ela carregava
no seu ventre um outro ser e o fazia com dignidade. Suas passadas
eram firmes e delicadas sobre as sandálias de couro. Fechei os olhos,
fingindo que adormecia, e pensei que tipo de orgulho ela expressava. Não
era o orgulho que acompanha a soberba, a imodéstia ou a arrogância.
Era o orgulho ligado a um sentimento de prazer, de grande satisfação
e de altivez. E tudo, por que? Mais uma vez ela aceitara o desafio
de ser mãe. Daria ao mundo um quarto filho. Quem sabe se não
tentaram persuadi-la a abortar? Quem sabe se o marido, pouco compreensivo,
não lhe dissera que ficaria feia e que não estava disposto
a se privar do sexo por tanto tempo? Quem sabe quantas dúvidas
tentaram colocar no seu coração para que desistisse de mais
este filho? Ela, a tudo resistiu. No meu coração
refleti porque a Igreja não representava Maria, a mãe de
Jesus, no período da gravidez. Imaginei Maria carregando no seu
ventre, como aquela jovem mãe, o seu menino Jesus, na modesta casa
de Belém enquanto fazia o trabalho doméstico. Que Nossa Senhora
Grávida desse àquela jovem mãe um parto feliz, desejei.
Daqueles devaneios fui chamado à realidade pela secretária
do médico que bateu nos meus ombros e disse-me: "Está na
vez do senhor."
De pronto, levantei-me, e na sala de espera deixei aquela jovem
mãe que mais uma vez olhei e que, com um doce sorriso, me
respondeu.
Antonio Ribeiro de Almeida