Gladys me surpreendia a cada tática que usava com o Clodoaldo,
seu marido. O objetivo era tirar dinheiro dele, pois ele era um sovina
de marca maior.
O que me deixava pasma é que ela tinha mania de economia. Ou
seja: saía da zona sul e ia ao centro para fazer compras, pois achava
que ficava muito mais em conta. Mas tinha que contar com sua parceira inseparável,
a boa Élida. Nada fazia sem essa amiga. Era um grude! Iam, juntas,
às compras, embora Elida nunca se convencesse da proposta de economia
de Gladys.
Um dia acompanhei as duas , pois estava curiosa para ver um mercado
recém-inaugurado no centro. Eu era guria ainda, pirralha. Lá
chegando, Gladys foi olhando tudo, separando e comprando. Eu só
olhava. Na hora de pagar, como ficou mais caro do que pensava, disse para
Elida: "pague aí o que faltou!". O máximo do abuso, pensei.
Não parou aí! Começou a reclamar do peso das compras
e pediu a Elida que chamasse um táxi, o que a outra rejeitou prontamente,
pois onde ficaria a tal economia?
Acabamos entrando no bendito táxi, com as duas na maior discussão.
Lembro-me da cara do motorista. O homem não parava de rir... No
fim, Gladys pede à Elida que pague. Ela exagerava no abuso...
No aniversário de Gladys de 45 anos, ela comprou um vestido
no centro da cidade! Pediu a Elida que o bordasse na parte superior e só
o bordado custou a amiga três vezes o valor do vestido. Mas elas
se adoravam. Uma não vivia sem a outra.
Quando Gladys dispensou Severina, a empregada, pediu que Elida a ajudasse
nas tarefas domésticas. Élida ficou lavando e passando as
roupas. Eu não entendia como Elida podia abandonar seu marido e
duas filhas para dar essa dedicação exclusiva a Gladys. Mas
não tinha briga, tudo fluía muito bem.
Até hoje fico pensando o que movia Gladys nessa questão
de economia. Na realidade, ela extorquia dinheiro de Clodoaldo e de Elida,
mas nada comprava para si. Creio que fosse uma mania, apenas pelo prazer
de se dizer econômica.
Recentemente vi Gladys num carrão que fiquei boba! Ela estava
de motorista e acompanhada dos netos. Teria Gladys acumulado bens nessas
transações de economia?
Ficou-me a vontade danada de encontrar as duas, de fuxicar a vida delas
e descobrir. Estou até agora matutando como faria.
Sei não... parece que tem algo no ar, algo que a minha inocência
de criança, daquela época, não me permitia perceber,
mas que agora...
Bem, só falta saber de Elida para que eu feche as cortinas.
Belvedere