Os atuais jovens brasileiros amam a "onda" americana, consideram-se a geração Coca-Cola, filhos da geração Jeans, e muitos têm como objetivo um dia viajarem para os Estados Unidos. Mas o que muitos deles não sabem é que talvez os seus pais — e certamente seus avós — viveram nos Estados Unidos... os Estados Unidos do Brasil.
Carlos Mariguella, Hermelíndo de Gusmão Castelo Branco, Etelvino Lins de Albuquerque, Oscar Carneiro, Vieira de Mello, Juscelino Kubistchek de Oliveira, Luiz Carlos Prestes e Jorge Amado. Certamente nossos adolescentes conhecem esses nomes, mas muitos deles, se questionados, responderão que esses são nomes de ruas ou avenidas conhecidas.
Voltemos ao passado, na época em que o Brasil também era os Estados Unidos. Os nomes acima citados eram apenas alguns dos muitos que, 125 anos após a Independência e 58 anos após a formação da República, formavam a Assembléia Constituinte que promulgou a Constituição dos Estados Unidos do Brasil. O ano era 1946 e o Distrito Federal era a cidade do Rio de Janeiro. Naquela época, muita coisa era diferente, mas o importante é que éramos os Estados Unidos... do Brasil.
Nossa viagem ao passado continua, agora no ano de 1891, quando foi promulgada a Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil. Citemos mais alguns nomes que muitos jovens conhecem porquê "já passaram por essa rua": Epitácio da Silva Pessoa, Floriano Peixoto, Rui Barbosa, Nilo Peçanha... A cidade do Rio de Janeiro sediava a Capital Federal e a República havia sido proclamada há apenas dois anos. Já naquela época, ficou estabelecido na Constituição que no futuro a Capital Federal passaria para o Planalto Central, numa zona de 14.400 quilômetros quadrados destinados para este fim.
Essa 1ª Constituição após declarada a República traz alguns pontos curiosos, como no artigo 70, que diz que os "mendigos" não podem alistar-se eleitores para as eleições federais ou para as dos Estados. O mesmo artigo traz também outros impedimentos, como os "analfabetos", mas estes até há pouco tempo também estavam impedidos de votarem. Também curioso é o artigo 75, que diz que a aposentadoria só poderá ser dada aos funcionários públicos em caso de invalidez no serviço da Nação. E essa viagem ao passado talvez faça com que nossos adolescentes retruquem: "Mas os Estados Unidos [o outro] têm o Tio Sam... e nós?". Nós tínhamos o "Tio Pedro". Vejam que interessante: mesmo depois da "queda" do Império, nossos representantes republicanos mantiveram um carinho especial pelo imperador que eles haviam acabado de "destronar" e no artigo 7º das Disposições Transitórias fizeram constar "É concedida a D. Pedro de Alcântara, ex-Imperador do Brasil, uma pensão que, a contar de 15 de novembro de 1889, garanta-lhe, por todo o tempo de sua vida, subsistência decente. O Congresso ordinário, em sua primeira reunião, fixará o quantum desta pensão".
Somente com a Constituição de 1967, o Brasil perdeu o "sugestivo" título de Estados Unidos do Brasil. Mas isso é só para inglês (ou seria americano?!) ver, pois a cada dia estamos nos americanizando mais e, se assim permanecer, numa das futuras Constituições, mudaremos o nome definitivamente para Brazil e diremos "Bye bye, Brasil".
Marc Fortuna