Por vezes um desânimo me acerca hediondo e fico a imaginar se não devo guardar tudo que escrevo. E ir acumulando textos como fazia antes que o computador tomasse conta de minha vida. Escrevi desde os sete anos de um modo compulsivo, porque sem isso não saberia viver. Mas pergunto-me, se não houvesse essa necessidade inquebrantável, se adiantaria escrever. E vejo que nesse país só mesmo aqueles que já tem um nome nem sempre adquirido com tanto esforço, mas muitas vezes até por uma sorte maior e quase “genética” conseguem um ligar ao sol nesse difícil caminho de escritor.
Minha família é composta de muitos escritores e meu avô era um de bastante renome. Mas me pergunto: Vale a pena expor teorias, abrir a alma, fazer com que o coração bata desordenado e esperançoso ao colocarmos para fora nossos sonhos, esperanças, amores, tristezas, alegrias, ilusões com o olhar brilhante num mundo cujo horizonte nos parece em certos dias escuros e densos?
Aprendi sempre a força da fibra de mulher guerreira e tenho procurado exercitar isso pela minha vida afora.Enfrentando os percalços e continuando sem sequer procurar na hesitação, um porto em que pudesse parar. Mas tenho vontade em certas ocasiões de guardar entre meus arquivos no computador, tudo que escrevo.
Escrevo porque preciso, como o ar que respiro, como fonte de minha própria vida, sem o que talvez não conseguisse o entusiasmo natural, e essa vibração que todos os que me conhecem esperam de mim.
Ontem recebi uma notícia excepcionalmente triste. Uma pessoa que eu amo está com câncer e condenada. Ela me conheceu quando eu era ainda uma garota, e carregava dentro do peito uma esperança inabalável. Esperança que continua acesa em quase todos os momentos. Mas que uma notícia com essa me faz perguntar: Por que estamos aqui, afinal?
Sei que a resposta tradicional é: Para cumprirmos nossa missão! Acrescento que nossa missão é muita relativa. Relativa, e em suas proporções, nem sempre com o peso que gostaríamos que tivesse.
Escrever é para mim como o coração bater. Preciso que haja essa condição para que possa continuar a viver. A percorrer com olhos cheios de luz o meu caminho, para que continue nessa estrada ora iluminada, ora escura como breu. Preciso continuar ininterruptamente. Mas não sei se vale a pena expor nossa alma e mostrar uma senda que a ninguém interessa.
Desde muito pequena li desesperadamente, entrando em cada frase ou período do escritor, e procurando captar o que nos transmitia de verdadeiro, emocionando-me com suas histórias e querendo entender os anseios que se lhe escondiam interiormente. Aprendi também a ler sempre sua biografia para que pudesse mais me envolver nos conceitos apresentados.
Vejo com tristeza que o nosso país não se preocupa com isso. Não dá condições. Não ouve. Não fala, a não ser a quem lhe interessa, possa lhe dar votos, ou seja, influente o bastante para que consiga doar cargos. É isso que as pessoas que podem fazer um pouco pela cultura pensam: Audiência e popularidade.
Continuarei a escrever sempre, com a mesma freqüência e independente de qualquer reconhecimento. Mas vejo lamentavelmente que até em pequenos ambientes há uma luta renhida para sempre vencer e tropeçar no outro com uma força deplorável e triste.
E enxergando um longo caminho, interrogo-me insistentemente sobre o verdadeiro sentido da vida. Sei que são dias intercalados, e que as estrelas só luzem porque ontem as nuvens apareceram cinzas e propiciando uma tempestade devastadora.
É assim viver! É assim sonhar! É assim amar! É assim caminhar nesse mundo em todos os rumos que ele nos oferece. É assim morrer!
É assim! Perguntas sem respostas, palavras ao léu, conceitos desprezados, e a procura sempre, infelizmente, rumo a interesses que nem sempre levam à verdadeira felicidade e cujo fruto enriqueceria nossa alma, traria benefícios para os que precisam ou faria desse planeta algo justo e sem as exclusões que nos perturbam, mas que verdadeiramente não procuramos lutar para exterminá-las.
Se tudo que falei, for utopia, deixe-me exercer essa utopia nesse momento. Agora, enquanto escrevo. Por um momento apenas. Por um momento!
Vânia Moreira Diniz