''O que posso aprender com esta visão?" Pensei, enquanto observava um homem mendigo brincar na orla marítima, com a intensidade e abandono de uma criança feliz. Estava sentada em um banco observando o oceano e estes pensamentos chamaram minha atenção.
Notei-o, pela primeira vez, quando voltando de uma caminhada pela areia: me encaminhei para lavar os pés no chuveiro público da praia. Fiquei aborrecida com a demora de ter que esperar o homem literalmente '' tomar seu banho''. Foi quando notei que o mesmo era um mendigo, vi um sabonete em sua mão, não muito longe dali uma velha bicicleta com alguns pertences...
Algumas pessoas que estavam por perto, em tons impacientes, comentaram alto em desagrado, que ali, numa praia situada em uma zona residencial de elevado valor aquisitivo, era humilhante ter que dividir o chuveiro com pessoas mendigas. Neste instante minha irritação se dissipou, me envergonhei de ter ficado aborrecida com algo que para aquele homem deveria ser a sua única forma de conseguir se banhar. Não sou melhor que ele, e assim como possuo direitos ele também os tem...
Ele passou por mim, foi em direção a areia e sentou-se nela... Após ter lavado meus pés fiz o mesmo, sentei-me em um banco e tentei apreciar um pouco mais a beleza do lugar.
Posso dizer que fiquei intrigada, tentando com minha mente curiosa, saber o que aquele senhor poderia estar pensando ao olhar o mesmo infinito que eu... Será que para ele aqueles momentos de liberdade, de encontro com o mar, de contato com a natureza, surtiam os mesmos efeitos que a mim?
Como se estivesse lendo meus pensamentos, o senhor se levanta da areia e como que referenciando o mar, caminha até ele, ajoelha-se e com as mãos brinca com a areia molhada como se tentasse segurar o mundo em suas mãos... Tal qual uma criança feliz em estar desfrutando de uma manhã ensolarada na beira da praia...
As ondas do oceano, calmas, vinham acariciar seus pés, sem distinção, como fariam com qualquer outra pessoa, rico ou pobre, sem teto ou proprietário de alguns daqueles apartamentos caríssimos da redondeza...
Naquele horário, em uma plena terça-feira, a maioria das pessoas estava entretida em seus trabalhos, na busca desenfreada ao consumismo, materialismo, lutando pela sobrevivência... Mas será que estavam mais tranqüilas, felizes e seguras do que aquele ser que não possuía nada a não ser o mar a seus pés?
Ali fiquei sentada por minutos, tentando entender a lição daquela manhã de sol. Deveria tentar ser como o oceano e aceitar a todos como irmãos, sem distinção?
Ou minha lição seria procurar agir como aquele mendigo e viver a vida sem muitas preocupações, aproveitar o momento mágico de contato com a natureza e, pelo menos, tentar esquecer problemas, às vezes não tão relevantes, que nos aborrecem no cotidiano da vida?
Provavelmente os bens materiais daquele senhor se resumiam em sua bicicleta, com seus poucos pertences, por nenhum momento, notei o mesmo olhar em direção a ela...
Como se soubesse que na vida sempre há uma solução, nada é insubstituível. Que naquele momento o mais importante era apreciar o que a natureza ofertava de forma tão sublime do que se preocupar com bens materiais...
Talvez deveria aprender todas estas lições, que resumidas poderiam ser definidas em aceitação, opção, esperança e fé...
Aceitar meus semelhantes sem distinção, tal qual o mar, a areia, o sol...
Esperança em saber que o amanhã virá, e que os problemas que hoje parecem insolúveis amanhã serão lembranças do passado...
Fé em acreditar que há um ser superior que nos ensina estas pequenas lições da vida, através de simples metáforas...
Cabe a nós estarmos atentos e decifrarmos estas lições tentando aplicá-las ao nosso dia a dia. E assim, viver na plenitude de uma vida tranqüila...
Angela Bretas