O que vou escrever agora? Esta pergunta eu me faço, procurando encontrar
assunto um pouquinho além das mistificações gravadas
no cérebro.
A insensata obsessão de escrever sem saber porquê e nem para
quem. Meus personagens que fazem perguntas de impossível resposta,
seres enfiados em prédios, a espiar o mundo pela nova janela, a
da internet, hipnotizados diante dos vazios da TV ligada, personagens perdidos,
tropeçando pelas ruas feias e apinhadas, ou à procura de
gente, nos bares e danceterias da vida, casais rompendo ou se torturando
na busca do soberano amor. Faço parte dessa gente que procura a
saída do labirinto do medo, pela invasão violenta da privacidade.
Essa sombra, lado a lado, com alarmes de segurança, erguendo muros
e grades, deixando-nos ilhados nesta fortaleza de egoísmo e insegurança.
Eu escrevo por não caber dentro de mim mesmo. Busco falar com você,
porque não posso me conter, canto por estar emocionado e me lamento
por sofrer – respostas variadas ao equilíbrio perdido. As coisas
necessariamente ressoam, sempre que o equilíbrio se rompe. As palavras
acabam sendo um testemunho de minhas imperfeições, mas também
a retomada do equilíbrio, num outro nível. O ato de escrever
exige necessariamente um mergulho interior e, com isso, implica numa propensão
para o resgate do “eu” mais esquecido. Nesse sentido, não é
de se estranhar que, como tanta gente, escrevo. Na verdade, para não
ficar alienado ou, simplesmente, como forma de ser amado. E realizo essa
“utopia” com verdadeira obstinação – contra a corrente tanto
do cotidiano quanto do mesquinho dinheiro que, com sua obsessão
pasteurizadora, determina ao mundo o que está “na moda” e “fora
da moda”.
Quaisquer que possam ser as respostas, sou levado a concluir que, escrever
costuma implicar num gesto contra a corrente do dia-a-dia.