Palavras livres esvoaçam ao vento. Urge prendê-las aos grilhões do pensamento. Prisioneiras, vertem lágrimas a querer liberdade, no ideal do livramento.
Libertadas, seduzem o leitor na construção de um texto, levando-o a sonhar que as possui, como se suas fossem.
Ao aprisioná-las em seu interior, misturam-se com seus valores, suas crenças e seus temores, passando a criticar, de forma única, com cumplicidade ou complacência, com temeridade ou ofensa, como se fosse ele o autor daquela obra literária.
Inicialmente temerária, ela se apodera do leitor para levá-lo
ao naufrágio por entre ondas de sentimentos, transformando-o em
arremedo de integridade, arrancando-lhe soluços ao espelhar um pobre
prisioneiro da humanidade.
Ao voltar do frio exílio daquela lida, o leitor se recupera
para sentir-se aliviado em seguida, como se a viagem ao mundo daquela estranha
mente, fosse apenas um transitório presente.
Esquece-se que se tornara escravo da liberdade do pensar, e a partir daquele instante, o pensamento torna-se seu amigo errante, pela vida afora, até seus últimos dias, como homem livre-pensante.
Nessa qualidade, por entre palavras sem caridade, quero destruir uma proposta ofensiva, feita ao acaso, jogada ao léu, talvez querendo que fosse capturada pela pomba da paz, que voa triste pelo infinito céu.
Uma proposta de aumento financeiro por representação política, conquistada a pouco através da vontade imaculada, talvez agora não mais ofertada, já que se pudéssemos voltar atrás, o indigitado indivíduo voltaria à sua rastejada mediocridade.
Refiro-me à proposta de aumento em mais de 100% para os parlamentares, de autoria do deputado federal Severino Cavalcanti, que a pretexto de estar sempre "no vermelho", nos deixa irado e ofendido, já que a cor escolhida foi por nós conquistada e misturou-se ao verde, formando a esperança da liberdade em sangue outrora talhada.
Ó caro deputado, não se faça de rogado, todos nós sabemos dos meios por muitos utilizados, ao usarem legalmente as verbas de gabinetes para compras de roupas e para pagamento de assessores, que acabam retornando aos bolsos na mais pura malandragem, na velha forma de dólares invasores.
A representação política não lhe deve trazer favores, pois é apenas um encargo patriótico que deveria defender com orgulho e decência, já que mais de 50 milhões de brasileiros vivem comendo lixo e excrescência.
Não faça da hipocrisia sua excelência. Defenda, com a vida se preciso for, o término da fome da criança indefesa, que morrerá nos braços da fétida capa que encobre alguns dos senhores.
Brasileiros esqueléticos torcendo pela seleção, sob o azul do ufanismo morrem de fome e de sede debaixo de tanto cinismo, ao estarem jogados à margem da brasilidade, enquanto propõe aumento financeiro por tão pouca representatividade. Ora, deputado, quanta bobagem!
Ó caro Severino, se fosse antigamente, deveria receber em praça pública umas fortes chibatadas, a lhe servir de corretivo para que aprendesse a respeitar a fome das crianças abandonadas.
Vou dizer seu castigo, como brasileiro letrado, além da publicidade da indigitada vontade, para que possa comer purê, caviar e saladas, ora Severino, vá plantar batatas!
Douglas Mondo