Dezembro de cajuadas. Cheiro guloso de mangabas, de tainhas fresquinhas,
de pirão escaldado...
Sol de verão tinindo na poesia viva de Jorge Fernanes (1887-1953),
marco modernista n paisagem literária da província cascudiana.
Liberta dos cânones acadêmicos, essa poesia dionisíaca
capta doas as nuanças do verão natalense com os seus teimosos
cajueiros, que gritam sobre os morros, carregados de cajus vermelhos virgulados
de castanhas.
Viajante da alegria, na bela síntese de Jarbas Martins, um jorgeano
incurável que, durante anos, sonhou escrever uma peça inspirada
no autor de Livro de Poemas.
Jorge Fernandes caminha com a sola dos pés molhada na água
salgada. Escala as dunas de areia torradas de sol. Penetra o mistério
ecológico dos sitos ensombrados de coqueiros, de cajueiros e mangabeiras
agridoces.
Olha as nuvens, paradas e miúdas. Transparentes, lembram escama
de peixes aéreos.
Redinha... Arredia e tão só.
A precisão mineral da Redinha com o seu areal infinito coberto de
conchas e mica, exposta à luz asséptica da manhã.
Os mágicos poentes sobre os morros. As luas de verão, fluidas
e preguiçosas como um caracol que divaga. Nos quintais, as pacientes
árvores frutíferas. O leve murmúrio do Potengi. O
mar ri.
Depois, Santa Rita... Genipabu... Barra do Rio... Graçandu... Pitangui...
Jacumã... Rio do Fogo... Maxaranguape... Maracajaú... Muriú...
O luar, invenção dos índios janduís, chuva
de outro sobre as dunas dançarinas.
Jorge Fernandes roga aos poetas da terra que tirem a venda dos olhos e
olhem com olhos alegres todas essas paragens de morros e de sol. Todo este
verde buliçoso de coqueirais murmurantes, sacudidos pelo vento vadio
e assoviador. Vento que anda vagabundando nas praias, arrepiando a rede
dos pescadores e a crista das ondas mansas.
Redinha de muitas moradas.
Franklin Jorge