Hoje é quarta feira, o dia mais feliz da vida de Marina. É o dia em que ela cumpre um ritual quase que religioso. Acorda cedo, bem na hora do galo cantar. E vai direto para o banheiro escovar os dentes nas pontas dos pés, porque não tem muito tamanho, e se deixar, pode ser engolida pela pia, que é três vezes maior do que ela. Com certeza, todas as suas amiguinhas estão dormindo, afinal de contas, é férias. O que Marina vai fazer para passar o tempo, é dar milho ás galinhas.

 A mãe, do tanque cheio de roupas, observa a menina, tentando descobrir porquê tão cedo , ela está de pé. O pai não está em casa, a roça o obriga a acordar muito mais cedo do que Marina. Enquanto continua seus afazeres, a mãe fica de olho na filha, com medo que ela apronte algo. Chega a hora do almoço e todos estão à mesa, inclusive a menina, olhando fixamente a sopa de legumes já tradicional.

 A mãe agradece à Nossa Senhora o alimento e põe no prato, aquela que mas parece uma massaroca toda colorida pelos diversos pedaços de legumes, que compõem o prato das duas.

 Marina faz o sinal-da-cruz tão rápido que deixa a colher cai de sua mão.

"É a pressa!" diz a mãe com ar de reprovação. Ela come a sopa ainda quente, sem medo da dor de barriga, que pode aquilo causar.

 Não repete nenhuma vez, e sai da mesa, para fazer o mesmo ritual tortuoso do comecinho da manhã, escovar seus dentes, nas pontas dos pés.

Lavando a louça, a mãe recorda que precisa colocar Marina no banho, antes de saírem. mas nem foi preciso, marina já está no chuveiro, embaraçando ainda mais os longos cabelos cacheados, com um resto de shampoo que ainda há. Já arrumada, a menina vai até d. Antônia, para que ela desembarace o nó que é seu cabelo agora. e no meio de uma penteada e outra, a menina tasca uma pergunta.

"Mãe, por que o almoço é só meio dia?"

"Ora, o porquê eu não sei, mas sei que é de costume almoçar essa hora".

"E por que o café-da-manhã é sempre cedinho?"

"O nome já diz tudo, sé é café da manhã, só pode ser cedinho", responde a mãe, tentando parecer fazer algum sentido aquela resposta.

"Então, se fosse assim, a janta deveria se chamar janta-da-noite, e almoço-do-meiodia..."

"Deus criou assim Marina,se mudar, Ele pode ficar zangado!"

A menina meio desconfiada, ficou em silêncio, como forma de respeitar Deus, talvez.

"Que foi Marina? tá calada por que?"

"Tô pensando, mãe..."

"Pensando no quê, menina?"

" Quer dizer então que se eu pedisse a Deus para a hora de comer o bolo da tia Cezinha cedinho e não à tardinha, Ele ficaria bravo, mainha?"

Ao ouvir aquilo, a mãe da menina deu um largo sorriso e entendeu de vez o porquê da filha acordar tão cedo toda às quarta-feiras.