Muy amigo

Quando cheguei aos sessenta anos, comissão de amigos queridos organizou jantar nos salões do Ideal Clube que reuniu mais de cento e vinte casais da melhor qualidade. La crème de la crème. Tudo gente linda, dizendo-me coisas lindas, afagando meu ego.
Pois bem. Dia seguinte, fui à Praça do Ferreira, de manhã, para ver se ali chegara eco da gloriosa noite anterior. Encontrei conhecido que me disse ter estado no restaurante do clube. Não entrara para me cumprimentar porque eu estava muito sem jeito.
Fiz um ar de anuência, tão fraco é o caráter. Aí, ele foi fundo: “Tu estavas sem jeito porque ninguém te conhecia nem conhecias ninguém. Foram ali apenas para aparecer na coluna do Lucio Brasileiro”.
Quase eu concordava.
Despedi-me e fui refletir sobre a inveja humana.

Lustosa da Costa

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