Nada existe que me seja tão
incentivador como o surgimento, crescimento, amadurecimento e a concretização
de uma idéia. Idéias são algo tão profundamente
humano, que eu costumo dizer que somente o fato que as temos basta para
sermos. São as idéias, não os pensamentos, que nos
tornam indivíduos. Não posso dizer que nenhum outro ser pense,
mas posso testemunhar como unicamente humano, o mundo das idéias.
Mais interessante que as próprias idéias, entretanto, tem-me
sido colocá-las em prática e ultrapassá-las; um processo
complexo que chamo de desafio.
A idéia em si, é
mero destino óbvio do pensamento humano, concretizá-la é
o desafio e ultrapassá-la, evolução. Tenho certeza
que nem todo ser humano é capaz de evoluir, bem, pelo menos o tipo
de evolução que estou apontando. Não é todo
mundo que consegue fazer uma meta de uma idéia e muitos menos são
os que conseguem identificar o momento certo do final do desafio e início
de uma nova idéia. É como estar em um emprego durante tanto
tempo que não se percebe mais a própria acomodação,
quase automação, que impede o aprendizado e esta "cegueira"
da acomodação impede a mudança necessária para
a evolução do ser, ou seja, nos impede "idéias
novas". Não que seja fundamental a mudança de emprego cada
vez que eu sentir que a repetição rotineira do trabalho põe
em risco o meu aprendizado, mas a mudança por si só
é que é fundamental. Mudar é sempre evoluir, mudar
é tentar idéias novas e concretizá-las é a
base da evolução. Está fechado o círculo fundamental
da reciprocidade e do conter - estar contido da existência integral
das coisas. Se não mudo de emprego, mudo a minha visão sobre
o trabalho que faço ou a maneira de fazê-lo, ou seja, se não
mudo o emprego, mudo eu, que é a mesma coisa que mudar o emprego.
Um novo eu, fará do trabalho um novo trabalho, porque terá
visões novas sobre ele, o novo eu terá idéias novas.
É claro que um novo eu, com novas visões pode sentir necessidade
de um novo emprego. Quando isso acontece é porque aquele emprego
já me ensinou o que eu tinha para aprender. Então, esgotando-se
as mudanças interiores e exteriores daquele trabalho, estou fadada
outra vez à estagnação, a não ser que eu busque
uma mudança maior; a mudança de emprego.
Bem, então, idéias
novas e o desafio de suas concretizações são o que
geram as mudanças necessárias para evolução.
Isso me leva a entender que qualquer coisa estagnada é uma coisa
que retrocede na escala evolutiva indo de encontro à extinção.
Parece fazer sentido que a mudança seja a base do aprendizado, porém,
quando mudamos ininterruptamente neste processo que chamo de evolução
corremos o risco de sermos taxados de volúveis pelos que não
vêm a mesma interligação mudança - evolução.
Mas ser volúvel é ser superficial, é não se
entregar com paixão, porque só a paixão nos permite
o mergulho necessário e total nas àguas do aprendizado. Mergulhar
mais ou menos não é aprender tudo ao ponto de cessar o processo
evolutivo naquele estágio, o que nos faz sentir a necessidade de
mudar para um estágio seguinte. O mergulho parcial não permite
a concretização da idéia. Paixão nada tem a
ver com ser volúvel, superficial ou frívolo, tem a ver com
a capacidade do ser humano de admitir coisas novas, aliada à coragem
da entrega e do reconhecimento da necessidade do surgimento dessas novidades.
Estágios evolutivos ou
estágios de aprendizado...depois do 2+2 , as equações,
as integrais... Como se encaixaria esta minha teoria nada inovadora e nada
genial nas coisas além cálculo? Como encaixar mudança
no amor, por exemplo? Mudamos de amor se o amor se estagnar? A estagnação
e acomodação do amor é a segurança que se procura
no amor ou é confundida com ela? É possível que mudança
coexista com amor sem danificar sua segurança? Como no caso do emprego,
mudar o amor não significa mudar de amor, mas quando mudo o eu no
amor, ou quando mudo o que cerca e atinge o amor, assim como no emprego,
corro o risco de sentir necessidade de um novo objeto de amor.Outra vez,
mudanças são as causas-conseqüências da evolução.
O sonho romântico que a
segurança está no emprego e amor fixos e eternos é
um risco permanente à evolução. O medo de mudar para
que a sensação de segurança não seja danificada
é a causa mais freqüente da estagnação causadora
da extinção, que é o legado das coisas que não
evoluem. Não estou dizendo que não exista um emprego fixo
e um amor eterno que não estejam em processo evolutivo, o que estou
mencionando é que o medo da perda da sensação de segurança,
que um emprego fixo e um amor eterno promovem, na maioria das vezes é
o causador da extinção de ambos. A segurança não
está no que é estagnado ou no que é e existe por mera
acomodação ou medo de ser outra coisa. A segurança
está na evolução! O que não traz desafios,
não é seguro de sempre existir. Lembra? Evoluir = idéias
novas + desafio da concretização das idéias = mudanças.
Ou ainda: estagnação - retrocesso - extinção.
Logo, se segurança é a eternidade e se a garantia de eternidade
está na evolução,a segurança é o emprego
e o amor que mudam e nossos sonhos românticos correm o risco de serem
extintos por nossos medos nada românticos.
O risco de estarmos
em constante evolução e em constante mudança de emprego
e amor é o mesmo risco que corremos de encontrar a segurança
da eternidade. Se não mudamos o emprego ou o objeto do amor, quando
percebemos sua estagnação, estamos decretando a extinção
de ambos, entretanto, quando os mudamos, estamos aumentando a possibilidade
de encontrarmos um emprego e/ou um amor que permitam a inserção
de novas idéias e que sejam maleáveis à mudanças,
ou seja, que acompamhem nossa evolução. Mudar cada vez que
as chances de aprendizado se esgotam é chegar mais perto da fonte
inesgotável de desafios que é a eternidade e é aí
onde repousam nossos verdadeiros sonhos românticos de segurança.
Existem coisas e pessoas que não mudam ou que não mudam seus
empregos e amores mesmo quando os desafios se esgotaram e existem pessoas
e coisas que mudam ou que mudam seus empregos e amores sempre que os desafios
se esgotam. As primeiras decididamente não terão a mesma
chance ao eterno que as segundas. Eu não sei em que grupo de pessoas
me encaixo, sei porém, que não consigo sustentar por longo
tempo a satisfação pessoal ou a sensação de
segurança dentro de uma situação onde as lições
já foram aprendidas mas que ainda se repetem ou na mesmice intolerável
de um emprego ou amor que não me desafiem. Sei que quando terminam
as possibilidades de mudanças além ou aquém do eu,
eu mudo o eu, e mudo até o objeto através do qual evoluo,
porque não sou capaz de ser feliz diante da repetição
quase sagrada do que me desagrada e da impossibilidade de mudá-la.
A falta da troca de conhecimentos me impede a realização
e a satisfação de ser. O que não evolui comigo me
deixa frustrada e não sou capaz de viver uma situação
de frustração e "incompletude" sem querer mudá-la.
Tenho esta necessidade e avidez pelo que não se desgasta. A minha
profissão é uma fonte inesgotável de desafios - sou
artista. O meu objeto de amor seguro e eterno ainda não encontrei,
entretanto, é muito óbvio que há de haver alguém
que para mim seja uma fonte inesgotável de desafios e não
uma repetição enfadonha de fatos frustrantes e por isso desagradáveis,
que nada mais acrescentam ou ensinam e que não evoluem, assim como
existe esta profissão,a arte, mas é claro que este homem
é um homem que sempre tem novas idéias...
Patrícia Evans