Acordei às 3:50h, ou melhor, esse foi o horário em que resolvi pular da cama, porque nem cheguei a dormir. Vi o dia de hoje despontar à minha frente em tons rosáceos e azuis celestiais. Antes, porém, tudo era escuridão. Fiquei divagando. Que magia será essa operando na natureza, que a mim é negada? Por que, como num passe de mágica, eu não possa deixar de ser amargurada para, enfim, resplandecer? Isso me lembrou um poema que escrevi, inspirada no "Conto Monocromático" do grande João Andrade. Em meu poema, "Violeta ou Lilás", invejo (inveja branca) os tons de azul do mar que o poeta está a contemplar. Invejo, porque aqui, da ilha onde me encontro, só vislumbro um brejo de águas turvas e sem cor… um breu intenso.
Coincidentemente, ontem recebi uma mensagem que dizia no assunto: "De que cor é sua vida"? E tecia vários comentários sobre cores diversas…Olhando para este céu, rememorando o poema e a mensagem de ontem, só pensava em cores, tentando encontrar uma que se adequasse à minha vida. Constatei, infelizmente, que minha vida é pincelada, gradativamente, em tons de cinza; do mais escuro, ao mais claro, esmaecendo conforme os dias: mais sombrios ou mais amenos. Cinza, em dégradé… nenhuma outra tonalidade.
Não que eu queira o cor-de-rosa, porque a vida, sem problemas, é sem graça. E de onde fluiria minha prosa? Magenta, nem pensar! Seria muita felicidade para quem está à beira do negro abismal. Mas ao menos alguma outra matiz, que não cinzenta. Talvez um lilás, ou violeta, para tingir os meus dias desbotados e fingir-me de feliz.
"A vida, é da cor que a gente pinta", dizia a mensagem. Sou assim, apática, devido à minha paleta monocromática: ligeiramente preta.
Valéria Tarelho