os anagiraldes

            O poeta Cesar Vallejo relata o nascimento, no porão de sua casa, em Lima, no distante ano de 1919, de uma ninhada de anagiraldes — insetos graúdos, do tamanho de um dedo da mão, túmidos, peludos e nauseantemente asquerosos.
            O notável nestes vermes roliços e de pegajosa textura é que, superada a barreira das coisas ditas nojentas —  e este é um obstáculo difícil de ser vencido —, os anagiraldes pode ser que mostrem invertebrados cândidos.
            Vallejo chega a lhes dedicar um dos poemas sublimes de Trilce, recusando deter-se no que eles, os anagiraldes, têm de mais assombroso — o aspecto de lesmas fétidas, enroladas umas às outras, no ninho, à maneira de minhocas putrefatas — e cantando-os, já, o poeta no que — vencido o nojo — engastam em pérola, baixo higiene de uma orquídea viva, para não criar outros limpos exemplos.
            Só não nos dá o segredo e nem nos detalha com que minúcia foi possível atravessar o horror e o asco, além, claro, do inconrnável vômito, para dar num poema que louva a manhã, o rubi, lêmures e gatos de pelúcia.

Wilson Bueno

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