Helena estava de férias em Paraty, quando um amigo ligou chamando-a pra uma festa à fantasia. Num zás, encarou a banca de roupas indianas. Túnica, conchinhas nos pulsos e tornozelos, tatuagem temporária no bronzeado, sandálias em couro cru. Banda vermelha na cabeleira encaracolada e uma longa pena verde à guisa de brinco, adeus Parati e pé na estrada.
Em Casa, já fantasiada, sambou frente ao espelho, e foi pra festa.
Mas antes passou em frente da sua loja, a conferir algum solapo. Viu
tudo em paz e amor e tocou o carro, rádio ligado no baticum.
Na Festa, anjos, diabas, caubóis, feiticeiras, índios,
sultões, copeiras, piratas, odaliscas, baianas, colombinas,
pierrôs, arlequins, garçons, hippies, black ties, toureiros
e napoleões coloriam o sanatório geral, como diria Chico
Buarque.
Tomou uns drinks, cantou, saracoteou, amou a festa.
Depois, em paz e amor, deu tchau aos amigos e em seu bólido
negro rumou pra casa. Mas antes quis dar mais uma conferida em sua
loja.
Ao entrar na avenida, abalroou uma velha viatura de policia que vinha
na disparada. Dois truculentos guardas saltaram furiosos.
-Teje presa, os documento, teste do bafômetro, desce que tô mandano!
-Seo guarda, bafômetro é bobagem porque estou voltando de uma festa!
Tá, encheu a cara e pegou um carrão emprestado...
Não me ofenda, a roupa é só uma fantasia de hippie e o carro é meu!
Cala boca, vagaba! Os documento!
Seo guarda, e documentos caberiam nesta bolsinha? Olha, aquela loja ali é minha, se o senhor permitir, pego lá os xerox dos meus documentos!
Doidona. O veículo tá apreendido e a dona da loja vai de viatura, com chofer, hahahah!
Nem pensar! Vão desmanchar meu carro no pátio, daqui não saio!
Cai fora do veículo, riponga!
Daqui não saio!
Sai, não saio, sai, não saio, Helena foi dentro do carro
guinchado. Na delegacia, juntou-se ao bloco de bailarinas, piratas, mendigos,
baianas, prostitutas, malandros, travestis, odaliscas e marinheiros.
De repente, um pirata disparou a espada plástica na espádua
do delegado. Na confusão, Helena viu uma porta aberta, entrou e
trancou-se.
O banheiro era tão infecto que esgoto perderia.
Porém, o que estava pendurado atrás da porta?
Uma suada, abençoada farda de policial!
Num zás, ela trocou de fantasia, guardou os caracóis
no quepe, atravessou séria e altiva a confa-carnavalesca, livrou
seu carro do pátio, recolocou a pena verde à guisa de brinco
e voltou pra festa...
Cláudia Pacce