O marido não era nenhum touro premiado. Magrelo, tinha, porém, saúde de ferro. O certo é que, um dia, apareceu com câncer. E desses brabos, fatais, que concedem, no máximo, três a quatro meses de sobrevida. Ainda foi a S. Paulo, por desencargo de consciência. Nada. A mulher lhe dispensou a mais carinhosa assistência. O que o levou a uma confissão. Dessas que se fazem, na despedida, in articulo mortis. Quando a mentira não tem mais utilidade prática. Traíra-a, fora uma fraqueza da carne, com uma menor.A mulher, diante da proximidade da morte, foi generosa, magnânima. Afinal, estava na iminência da visita majestática da Parca. Perdoou-o. Pois não é que houve engano e que quebrou a grandiosidade das expectativas?!
Descobriu-se: o cônjuge não sofria de nenhuma doença letal, dessas que têm, por trás de si, a autoridade e a severidade do fim, nada. Fora tudo erro medico. Era simples incômodo, uma macacoa dessas que se curam com chás e resguardo. A mulher, então, refluiu de sua generosidade. Anistia só diante do câncer, com a garantia da morte. Passou a atucaná-lo, a cobrá-lo pelo pecado até levá-lo ao desespero. A fugir de casa justamente para ir atrás da Lolita, sua paixão outonal.
Lustosa da Costa