O cômodo ficava no meio de um imenso corredor e tinha caixas empilhadas
pelos cantos, cheias de bugigangas que não serviam para nada.
As paredes estavam repletas de pôsteres, rabiscos e fotos. A
cama por fazer. As roupas esparramadas pelo chão. Latas de Coca-Cola
abertas pelos cantos. Sapatos e livros espalhados por todo lugar. CDs e
canetas, papéis de chiclete, escova de dentes, guimbas de cigarro
escondidas, incenso, cremes, batons. Bichos de pelúcia, bonecas,
um despertador, um aparelho de televisão, um computador e um telefone.
Era impossível manter aquele quarto limpo ou organizado, não
importando o quanto tentasse.
Mesmo assim, continuava lutando. As roupas eram separadas. No chão,
as meias sujas misturavam-se com vestidos e saias e a calcinha usada estava
enfiada dentro de um par de jeans, em um dos cantos. A roupa de cama exalava
um cheiro forte e doce e tinha que ser trocada.
Todo dia, Maria seguia a mesma rotina. Lavava, dobrava e guardava as
roupas. Só para encontrá-las espalhadas por todos os cantos
no dia seguinte.
O gato velho e manso, com seu olhar de descaso, via tudo do parapeito
da janela, ao lado de uma caixa de areia cheia de fezes felinas que inspirava
cuidados.
Manter aquele quarto em ordem por vezes até representava um
desafio. Porém, na maior parte do tempo, era como se Maria fosse
diariamente convocada para limpar um ninho de ratos vigiado por um gato
cego, maltrapilho e desinteressado...
Ângela Bretas