Junho aparece com o céu cheio de nuvens a nos dizer que o tempo está correndo realmente e já estamos no meio desse ano que se iniciou ontem. Isso me faz lembrar quanta coisa deixada para trás, pessoas queridas que já se foram para a definitiva viagem, mas pode ser também o início de um novo tempo, se quisermos confiar e contemplar o mundo de forma diferente.
Talvez seja o mês do amor iniciando logo com o dia dos namorados. Só que muito de nós talvez já não saibamos o que é o amor. Vemos tanta tristeza, violência, desunião, indiferença, dor não correspondida e encaramos muitas vezes fatos trágicos como se estivéssemos assistindo um filme de suspense.
Acho que nos colégios e dentro das próprias famílias precisaríamos começar a educação de uma criança partindo do zero e reestruturando tudo que temos visto, sentido e compreendido de um mundo tão conturbado ultimamente. Que não dá valor à verdadeira essência do amor e vê com naturalidade a luta insana pelo poder, a barbaridade de crimes hediondos e pessoas atentarem contra pessoas que deveriam estar não na ponta de sua arma, mas no centro de seu coração.
Junho aparece para mim, lembrando o aniversário de meu pai, e a festa de São João, ambos no mesmo dia que nos ensejava a soltar fogos para comemorar a alegria de uma data especial.
Junho lembra nas minhas recordações, o fim de um semestre laborioso e a esperança de férias, passeios, alegria, lanchonetes, teatros, cinemas, patinações, saraus especiais, tudo com mais assiduidade.
Junho me lembra a concentração nos livros para que pudéssemos ter dias em liberdade e sem o gosto acre da reprimenda e de olhares de reprovação.
Junho agora, nesse momento me aparece com discussões e o sofrimento de muita gente nessas empresas que foram privatizadas e ainda existe a triste ameaça para as famílias de demissão e falta de justiça.
Não sou funcionária pública, nem mesmo trabalho nessas empresas que foram privatizadas, sou simplesmente poeta e escritora que constata o sofrimento do meu povo. Mas ouvindo depoimentos de pessoas que estão passando períodos difíceis, sempre com o espectro das demissões e de e um escuro negro, meu coração se confrange ao verificar que embora as esperanças sejam muitas ainda há muita gente padecendo as conseqüências do que foi feito inadequadamente sem pensar no ser humano. E realmente há uma campanha contra o funcionário público desse país, embora a grande maioria ganhe um salário de fome. O que a mídia ressalta são justamente as exceções que certamente contribui para que população sem conhecer realmente o problema, passe a acreditar que são os servidores os causadores de todos os desmandos cometidos até então na Administração pública.
No entanto o servidor de nível superior, com trinta anos de serviço, no topo da sua carreira, sua remuneração não atinge R$3000,00 (três mil reais) . Esse valor é largamente praticado no mercado como, por exemplo, os gerentes de lojas comerciais. São constituídos de advogados, médicos, economistas, pedagogos e as mais variadas profissões de nível superior. Muitos deles com pós graduação e mestrados. Pessoas que conquistaram esses cargos a duras penas fazendo concurso público. A partir da constituição de 1988, não mais se admitiu servidores e empregados públicos que não fossem por concurso. E são esses, justamente que lutaram para chegar onde se encontram, pessoas cultas, esforçadas que lutam no dia a dia difícil e pouco promissor que estão sendo considerados os grandes algozes nesses últimos doze anos. São essas pessoas que nos últimos dez anos tiveram revisões salariais que não atingiram 7% enquanto a inflação chegou a aproximadamente 70% segundo fontes oficiais.
O país parece esquecer que quem ganha acima desse salário é um percentual mínimo de todos os servidores. Esses sim mereceriam ser visados e se for o caso reavaliados esses valores. E não se cometer a injustiça de generalizar uma classe tão sofrida como todas as outras do país.
Sou uma simples escritora, que procura entender os sofrimentos, as alegrias, vida e sentimentos das pessoas, e por isso mesmo, impossível ficar indiferente a essa constatação desumana.
Para terminar espero que junho nos traga junto com o inverno, mais condições para que o brasileiro que sofre nesse frio insano tenha condições de pelo menos não morrer, sem ter o básico para que possa se agasalhar decentemente. É isso que espero nesse mês de junho que me trás recordações tão generosas e profundas.
Vânia Moreira Diniz