Como pode ser? É sexta-feira, final de semana e o dia amanhece gripado, espirrando trovões? E os planos para ficar torrando no sol tal qual uma galinha de rodízio?
Com preguiça, espreguiça-se na cama. Com dedos de não me toque, relutante, tenta afastar a cortina cor-de-rosa teimosa, que insiste em querer esconder o dia. Rapidamente, enfia a cabeça debaixo das cobertas e se arrepende da descoberta.
O dia cinzento não combinava com a cortina cor-de-rosa em plena sexta-feira. O dia catarrento não prometia um bronzeado dourado...
Culpa sua insistência, em querer saber se os espirros escutados, eram mesmo um aviso que o dia seria doente. Deveria ter ligado um som bem alto, alegre e despojado, e ter ficado presa entre as paredes brancas com toques cor-de-rosa; sonhando que lá fora o dia estava apenas ensaiando passos, para a contradança com a noite colorida.
Tropeçando na manhã mal acordada, acometida pela desesperança de um dia brilhante, levanta cuspindo raios... Raios!
Percorre o trajeto cama-banheiro imaginando um banho bem quente. Recorre ao chuveiro, e este matreiro, despeja água fria. Que fria!
Tateia em busca da toalha amarela, que ela sempre deixou ao alcance dos dedos cegos, mas não a encontra. Com o corpo pingando em arrepios, dá o primeiro passo e vai de encontro ao chão... sabão! Entre trancos e barrancos, levanta-se. Encontra a toalha amarela e esfrega zangada o corpo molhado e descorado.
Encaminha-se para a cozinha, tenta achar o café, com dó, constata que acabou o pó!
Liga a TV, e o aparelho que tudo vê, anuncia que o mar não está para peixe. "Deixe seus planos para depois" avisa o locutor, com pose de doutor.
Não acredita naquela premonição! Retorna até a cortina cor-de-rosa, e com os dedos em ação, abre a janela.
A visão das nuvens, brincando de esconde-esconde com o sol desmilinguido, não lembra uma sexta-feira. O locutor, com pose de doutor, estava certo: o mar não estava para peixe, nem o dia para torrar no sol como uma galinha de rodízio. Não obteria a cor de canela numa manhã como aquela...
O dia, com um sorriso sarcástico, penetra em rajadas de vento pela ventana da janela, dando-lhe uma bofetada na cara e revira a folhinha do calendário lendário pendurado na parede.
Pasma, descobre que aquela era uma manhã de sexta-feira 13.
Angela Bretas