Os meios de comunicação atuais retratam em si o imediatismo da época que vivemos.Não apenas uma comunicação, mas uma comunicação quase instantânea. O que de pronto já oferece um dado relevante, que é a idéia de estar sempre acessível ou ter constante acesso com outros seres humanos.
O celular, por excelência representa esta quase compulsão do Homem moderno.
Talvez retrate algum traço da solidão, que o indivíduo sente em seu interior, mas que não se apercebe, pois, atropeladamente, busca sempre um modo de ignorá-la. E ao fazê-lo, perde qualquer possibilidade de conscientizar-se dela, e consequentemente de fazer algo a respeito.
Talvez o celular externe em última análise, uma certa prepotência, própria do ser humano, ao considerar-se indispensável, e, portanto com a legítima necessidade de que a qualquer momento o encontrem e ele possa encontrar também a quem desejar.
Parece-me que estes traços mascarados por roupagens aceitáveis, baseiam-se na angústia e ansiedade que dominam, em alguma medida, o ser humano, que se sente tão à deriva em meio às incertezas e violência que caracterizam a sociedade em que vive.
Sua consciência não sabe aquietar-se, não se sente confortável no silêncio interior, provavelmente porque o que vislumbra em si mesmo o assuste tanto, que prefere fugir a enfrentar.
O Homem moderno é afoito, apressado, ansioso e não se dá conta deste fato. Distrai-se com tudo que é exterior e que, aparentemente ocupe sua mente e dê a ele e aos que o rodeiam, a ilusão de estar ocupado, de ter prestígio, de ser importante.Enfim, me parece que neste aspecto, mais uma vez o homem é vitima dele mesmo, e como tal, permanece mergulhado na alienação, dando cada vez mais importância a tudo que lhe distraia a mente, e o distancie de seu ponto central, do seu eu mais profundo.
Na verdade, talvez haja uma certa relação entre o aparente poder de atuação que o celular lhe oferece e a idéia do poder criador, que em síntese poderíamos considerar o transcendente.
Cabe aqui um convite a reflexão, ao questionamento saudável frente às novidades que surgem em nossa rotina. Mudanças saudáveis e que nos proporcionam conforto e maior destreza, mas que exigem de nós algo mais que precisamos descobrir se estamos dispostos a pagar o preço ou não. E, acima de tudo, a possibilidade de se usufruir toda modernidade, sem dela nos tornarmos escravos.
Faço uma rápida alusão, uma quase brincadeira, na busca do entendimento das variáveis que interferem na conduta cotidiana do ser humano.
Ocorre-me então pensar sobre a Religião. Religião é Re ligação, reencontrar a unidade que se pressente, fazemos parte.O celular poderia ser considerado um símbolo, bastante discutível, mas nem por isso descartável, desta possibilidade de unir-se ao todo. Uma ilusão, pois ele causa sempre mais ansiedade, escraviza e até certo ponto o isola, torna-o compulsivo e impaciente. Faz, muitas vezes, perder o senso comum mais elementar, e o leva a excessos, e como tal, a prejuízos maiores que ganhos.
Vale a pena cada um refletir sobre o assunto, que embora pareça tão prosaico, e tolo, pode abrigar em suas dobras, pistas bastante conclusivas na arte de se conhecer.
Priscila de Loureiro Coelho/Cill