Famosa não sou. Poucos se lembram daquela Ligia insegura, talvez
imatura, sem freio ou receio de escrever poemas.
Medo de viver, receio de errar, construir frases feitas, usar de lugares
comuns.
Sou feita de osso e carne, passado e imaginação. Atrasado,
repetitivo e sem incentivo.
Quando disse, “sou feita...”, não sei de quem eu falava, apenas
sei que, entre Ligia e eu, um muro elevou-se, frustrações,
exageros, paixões, medos, traições...
Poucos leram meus livros de poemas, talvez por eu não ter sido
famosa, ou por serem, os jovens, muito jovens para entender meus velhos
poemas loucos!
Acima de tudo, não me iludo. Sei que venho, depois morta, cobrar
os louros da fama que nunca vivi.
Tantos livros, loucos poemas: Vôos Insanos; Caminhadas Mornas;
Navegando Nuvens Infinitas; Murmurando Gritos Contidos; Fúrias Marinhas;
Utopias Lângüidas; Cores Saborosas; Histeria; Paixões
Osfrésicas; Canções Surdas.
Escrevi algumas histórias também, estas não publiquei,
pois eram só minhas!
De todos, não lembro. Devem estar empoeirados em algum lugar
comum. Esquecidos. Talvez nem lidos. Perdidos...
Sou eu quem fala agora, crítica, melancólica, sensível
diante da natureza bucólica, de meu esquecimento proposital e cruel.
A Ligia não existe, é utopia.
Eu, apenas fantasia...
Ligia Tomarchio