É engraçado, desde que Maria Rita apareceu para mídia
de vez, eu que já admirava a voz e seu talento de um tempinho para
cá, comecei a ter um companheiro: o seu CD. Minha vidinha está
tão morna e cheia de desilusões que o que me embala, acalma,
alegra, faz dançar, chorar é a pesquisa sobre a pessoa maravilhosa
e o talento indiscutível da já chamada "Menina da Lua".
Quando vi seu show do Canecão anunciando não hesitei,
mesmo meio duranga kid sabe? Compramos um ingresso em lugar privilegiado!
Foi maravilhoso, conheci nos camarins, tirei fotos, umas saíram,
outras não, mas enfim, a única frustração foi
por eu mesma ter barraado a minha pobre mãe, pois ela ainda estava
naquele histerismo de Elis, ela é igual a Elis e eu sou daquelas
do movimento anti-comparações — embora não negue que
às vezes pego-me a reparar e comparar para pagar para ver a reação
dos outros.
Eu fui também fã da mãe, mas conheci só
uma época dela, e a Maria Rita está continuando um lindo
trabalho; mas os legados, as lutas que travará e as experiências
que enriquecerão sua capacidade de interpretação,
já incontestável, são bem diversas e de uma fase bem
distinta. Então, se isso me agrede um pouco, imagina a ela, pois
um desagradável gritara um "Maria Rita - Elis" desnecessário
e uma fila inacabável já adotaria aquele "elogio"; para poupar
minha querida mãe, podei-a, logo ela que fez de tudo para ir comigo,
venceu até a depressão e pânico que sente e foi, ficou
até mais tarde e convenceu meu irrequieto pai a ficar na porta do
Canecão nos esperando. Águas passadas.
Tudo corria normal quando a coisa do DVD dela apareceu! Pronto, pensei,
se eu não comprar por internet e na pré-venda, eu não
consigo mais esse novo produto.
Está bem! — disse mamãe, mais uma vez.
Comprei e recebi muito rápido. Enquanto a espera vencia uma
grande ansiedade, eu procurava o ingresso no show do Claro Hall, perto
aqui de casa. Dessa vez foi mais difícil convencer a mamãe,
que já estava preocupada com mil outras coisas, meio depressiva;
mas, no final das contas, disse-me para comprar os ingressos.
Conseguimos nossas entradas depois de 2 semanas e 3 recusas por falta
de lugares nos setores de palco vip; finalmente, eis-nos de posse dos bilhetes
com nossos lugares no setor especial, uma mesa de cara para o palco, embora
muito na lateral, de difícil visualização, mas excelente
pela proximidade da entrada dos camarins...
Um mês de espera e o dia chegou!
Fã sofre e mãe de fã sofre duas vezes. Não
sou de fã clube e nem quero ser, já no pouco que pude perceber
há máfias em todos os setores... Logo de cara vi um menino
que veio de longe e estava também no Canecão, tinha conseguido
entrar a mando da Maria Rita, na parte VIP, da imprensa e dos artistas,
bem, o menino tinha conseguido que ela do palco pegasse um bilhetinho seu.
Lindo, não?
Desse encontro, trocamos e-mails, sites indicados para informações
dela, e novidades, enquanto isso ele tentava falar com o segurança
para chamar alguém da produção. Eu tinha agluns nomes
e tentei ajudar, mas os insucessos foram desanimando o pobre menino. Falei
para ele que não desse os presentes e cartas para o segurança,
pois havia grande possibilidade de não chegarem às mãos
dela, mas o segurança foi tão enfático que não
hesitei, dei-lhe as minhas lembranças junto, inclusive para empresária
dela, que é um amor.
A informação que a segurança nos passara de que
a produção estava vetando tudo, principalmente a entradada
nos camarins, ocasionou uma atmosfera fechada; inlcusive, a cantora
havia descoberto há pouco sua gravidez, e então, namorado
e família também a postos, aumentavam o clima de Barrados
no Baile — sob este argumento, já tinham me confiscado à
porta da casa de espetáculos, as flores que eu lhe ofertaria...
Exatamente como estava previsto, às 22 horas e 45 minutos o
show iniciou-se. Puxei minha cadeira com um casal mais para trás,
mas com visualização maior, mesmo vendo o palco muito de
longe e o telão focalizando de longe também...
Primeiros acordes e frase de Maria Ritam criticados pela High Society
carioca, que julgou ter a menina desafinado! Duvido, mas minha emoção
era tanta que nem reparei; se aconteceu, foi rápido, pois logo na
segunda frase o vozeirão calou a boca da máfia formada por
alguns que ficavam rindo e gargalhando, e os tietes, que formavam um coro
bem gostoso e contagiante, silenciava essa minoria desagradável.
Eu, confesso, não estava tão animada, pois meu dedo doía
(tinha quase perdido o dedo do pé há uma semana), deu vontade
de repente de chorar por não saber o que fizeram com as minhas flores,
nem com meu pacotinho, com duas antologias, dois cds e um cartãozinho
meu com uma poesia feita para ela e para o bebê; ela cantava, vibrava,
e não dava quase para olhar para ela direito, estava muito longe,
além do quê os lanterninhas e graçons não paravam
e teve uma hora que levantei e o segurança perguntou-me se havia
algo errado e não hesitei, sendo ele fatídico e enfático
com os indivíduos desagradáveis. Nesse momento específico,
senti-me uma VIP, o mesmo segurança que havia atendido a mim e ao
João (o tal menino do bilhetinho), um doce de homem, veio nos notificar
de que fora entregue o pacote para a própria Maria Rita. Fiquei
mais tranqüila.
O show foi passando música após música, delírio
após delírio, até que chegando ao final, não
pisquei e mandei ver, esquecendo da dor, aplaudi de pé! O bis chegou,
as pessoas iam ao palco, conseguiam dar alguns presentes, pediam alguns
autógrafos, fotos comendo soltas e a boba com a máquina guardada
para disparar cliques somente no momento certo... Mas isso tudo se resumiu
em um doce momento, se comparado pelo mais humilhante dos instantentos
que passei!
Eu realmente não pensava que pessoas tão simples como
eu, pessoas que constituem a segurança, podem nos chegar com algumas
atitudes que parecem que eles são mais do que são, só
porque estão do lado de lá da tal grade de isolamento.
Pessoas que já havia visto no Canecão por ali e alguns
que não haviam visto ainda a cantora. Pessoas de outras cidades,
estados, de bairros distantes e estando sozinhas, cada história
que só vendo. Parentes e amigos também na mira deles, uma
das meninas aparentava ser de lá do outro lado e estar sem credenciais
e o segurança na malha fina. Quase iam pegando a garota quando perguntei
se conhecia alguém lá dentro e a menina com cara feia respondeu
que sim, e eu tentando defender alguém que nem sabia quem era, e
que nem me olhando com bons olhos estava (também, colocando-me no
seu lugar, não estaria satisfeita).
O único que veio foi o Da Lua, o percurssionista que muito provavelmente
foi dar uma olhada para sentir o clima ou se tinha fãs, ou mesmo
procurar alguém conhecido seu, mas não pestanejei, gritei
o nome e falei duas palavras, o abracei, pois o adoro, sinto uma coisa
legal nele, parece um menininho levado, sabe? Ele é muito fofo mesmo.
O melhor foi a sua atenção para conosco e seujeito simples
de lidar com o público, estampando sempre um sorriso, o maior carinho
que uma fã espera receber.
Depois vi um cara que não sei o nome, também da produção,
acho que assessoria de imprensa, uns olhões verdes, muito louco,
estava com uma caipirinha na mão e muito feliz, falei com ele que
agradecia pela força no Canecão, aliás ele me deu
um beijo na mão e me atendeu muito bem no primeiro show e nesse
segundo sei que não lembrava nem sequer quem eu era, mas foi tão
simpático que me deu um abraço bem forte também. Ou
seja, como eu posso falar dessa produção?
Pois bem! Os seguranças ficaram de historinha até virem
com a informação de que Maria Rita já tinha ido. De
repente, alguns seguranças apareceram e nos fizeram entrar pelas
grades a dentro falando que agora nós íamos vê-la;
mas o que mais conversara comigo antes apareceu e me perguntou se eu estava
vendo mais alguém por ali... Realmente, a casa estava sendo fechada,
tínhamos sido enganadas, ou melhor, despistadas.
Durante esta confusão, uns foram para um lado e outros foram
por outro; nós poucos, umas três pessoas e a coitadinha de
minha mãe, fomos atrás de um segurança já à
paisana que, com pena de nós, falaou assim: — "Ela acaba de ir para
o carro, é um carro preto e sai por ali pela rampa e vocês
se depararam com uns seguranças verão a moça ainda
saindo, corre que pega!" Fomos, seguindo a saga a procura de Maria Rita,
bem, a esse ponto, estava com meu pé anestesiado e mamãe
atrás correndo junto.
Chegamos no topo da rampa quando vimos um carro realmente saindo, mas
um coitadinho de um faxineiro sendo abordado pelos seguranças portando
uma foto de jornal e admirado por tê-la visto de perto, mas não
ter conseguido nada, nem cantar a música que ensaiara. Tadinho,
esse sim, fiquei com o coração cortado, sem dizer a moça
que veio de longe e teria que ir sozinha e sem dinheiro de ônibus
para casa. O pobre João? Saiu bem antes, chorando, cortou meu coração.
Eu? Entendi tudo, menos a violência para com um povo cheio
de bondade e alegria.
O sonho não se realiza, as poucas perguntas e trocas tão
importantes para artista, não as senti, mas não tem importância,
Maria Rita tem muito o que sentir e terá muito o que sorrir e cantar
para nós! Afinal, ela deve estar em turbulentos momentos de vida
e de nada sabemos nós, o público, de um já estabelecido
e enigmático mito, que a vê de longe.
Nós gostamos de você, queremos seu bem, entenda esse povo
tão sofrido! Sinta-nos mais Maria Rita... Para que o Zé e
a Maria Ninguém também a admirem — pois todos precisam saber
quem você é!
Cris Passinato