Com essa estória, que anda solta pela mídia, de Novo Homem
que precisa soltar sua porção mulher para ser mais feliz
eu me lembrei do Rodolfo Augusto (que inspiração a mãe
dele deve ter tido para lhe dar esse nome, hein?). E, lembrei também
por tabela, da Jô, sua esposa.
Ele é um primo meu de 2º grau, portanto bem distante...
que isso fique bem claro!
A Jô, antes, se queixava de que o Rodolfo era muito machista,
muito individualista e workaholic, só ficava lendo a Gazeta Mercantil.
Eles só faziam amor nos finais de semana, aliás sexo apenas.
E ela sentia nesses momentos como se ele estivesse guardando documentos
em sua pasta executiva. Nada mais, um tédio! Dizia ela.
Posteriormente, o teor da queixa mudou um pouco.
– O Rodolfo anda meio estranho, ultimamente.
Dizia a Jô... e complementava:
– Ele anda indo muito ao salão de cabeleireiro, vive só
falando em limpeza de pele, em combinar os tons do sofá com as cortinas,
falou até em fazer compras comigo no shopping, eu hein!
– Ele está lendo umas coisas esquisitas de um tal Mark Simpson,
vive cantarolando a música do Pepeu Gomes: Ser um homem feminino,
não fere o meu lado masculino...
– Outro dia eu o peguei dançando uma música do Abba na
sala, enquanto nosso gato olhava para ele com uma cara muito esquisita!
E, pior ainda, estava usando os meus cremes hidratantes e o meu quimono
de seda!
– Eu fiquei uma fera! Imagine! Usar meus cremes importados naquela
cara barbada, de homem! Deixar meu quimono com cheiro de homem!
Para meu “espasmo”, ela continuava...
– Sabe amiga, eu não gostava da fase anterior do Rodolfo, mas
essa fase atual está me preocupando. Eu queria um homem mais sensível
e atencioso realmente, mas essa versão Pepeu-cósmico-Gilberto-Gil,
está me deixando maluca! Afinal eu casei com um homem, de peito
cabeludo e tudo o mais!
E o Rodolfo Augusto prosseguia em seu aparente e iminente comportamento
modificado.
Na verdade as colegas do banco multinacional em que ele trabalhava
estavam prestando mais atenção nele e convidando-o para almoços
e happy hours com mais freqüência. Ele estava adorando.
E a coisa não parou por aí! Ele mudou seu guarda-roupa
quase todo, trocando os ternos “politicamente corretos e em tons moderados”
para ternos bem cortados, arrojados e até camisa cor de rosa ele
passou a usar!
A Jô decidiu chamá-lo para uma conversa mais profunda.
– Então Rodolfo, o que é está acontecendo com
você? Você anda tão diferente, modificado... Está
estressado?
E ele calmamente respondeu:
– Jô, eu agora sou metrosexual! Mudei porque achei que precisava
liberar meu lado feminino, para ser mais feliz. Você não se
queixava que eu vivia mergulhado no meu mundo masculino?
E ela retrucou:
– “Metro” o quê, Rodolfo?
– Metrosexual, Jô! O homem da nova era, engajado com o
estilo de vida moderno, um homem que se cuida e que não tem vergonha
de explorar seu lado Ying! Um novo ser pleno e cósmico!
A pobre Jô, com os olhos arregalados e boquiaberta, deduziu que
o marido estava ficando maluco ou virando gay!
Ele estava cada dia mais radiante, fazia novos amigos, saía
para dançar, enquanto que ela vivia cismada, inconformada e sempre
muito estressada com o novo padrão de vida dele.
– Eu casei com um homem e agora vivo com um “metrosexual”, que até
os pelos do peito resolveu depilar! Lamentava a Jô.
Um dia ela teve que chamar um ajudante de pedreiro para trocar o chuveiro
queimado, porque o Rodolfo Augusto não queria mais se submeter a
esse tipo de trabalho rude.
Estava calor e o tal pedreiro estava com a camisa aberta, mostrando
o peito todo cabeludo.
Ela ficou maluca, ofereceu limonada, bolo e até um almoço
no dia seguinte ela prometeu para o rapaz.
Entre um conserto caseiro e outro, ela virou para o tal pedreiro e
perguntou se ele sabia o que era “metrosexual”.
Ele, com os olhos esbugalhados, sem entender nada, respondeu:
– Olha Dona Jô, na minha casa meu pai disse que se tivesse filho
com esse “pobrema” ele botava fora de casa!
Bem, para finalizar essa estória, eu sei que a Jô hoje
vive com o tal pedreiro em uma casinha lá perto da estrada da Pedreira.
O Rodolfo Augusto atualmente ministra palestras sobre esse tão famigerado
tema do Homem Novo, sempre tendo como fundo a música do Pepeu:
Ser um homem feminino, não fere o meu lado masculino...
Leila de Barros