Se vocês virem um cara, numa roda de uísque, fazendo propaganda do iogurte e da coalhada, tirando o cigarro da boca dos amigos, proclamando as excelências do chá de cidreira, não se surpreendam se for o Lustosa em new look, o Lustosa que acaba de fazer e ser aprovado no vestibular para chato. Chato de galochas, acrescento.
É acontecimento que se não pode esquecer o da saída de Vinicius de Morais, Antônio Maria e outros boêmios de manhãzinha de uma boate do Rio e seu encontro com honrados chefes de família, sóbrios e virtuosos que começavam saudáveis andanças. Os aficionados do método Cooper foram vaiados pelos pecadores que saiam, ébrios como deviam estar, da casa noturna.
Nunca pensei que os acontecimentos me levariam a ficar com os apupados e não com os apupadores e a vida me reservou tal destino. É que os médicos decretaram: tudo o que é bom faz mal ou é pecado. Eis o lema de minha nova existência.
Andar sem rumo.
Em primeiro lugar, vou ter de caminhar muito sem destino nem motivo porque andar é bom e eu só o fazia com objetivos determinados e precisos.
De costas para a boa mesa
Depois, terei de ficar longe das coisas boas da vida. Das ostras e lagostas do Mil Mares. Do cordeiro à Lustosa da Costa, do Cantinho do Faustino. E de Baco. E sabeis, leitores, que ficar longe só pode ser de uma maneira, terminante. Não dá para ficar indo e voltando. Assim terei de ser aquele chato que, nas rodas, enquanto todos se embriagam, guardará a lucidez dos justos e dos virtuosos. Nem poderei atender ao convite irônico do Lúcio Brasileiro: “Editor, nem uma Coca Cola light quente?” Porque estão proibidos até os engarrafados e as gasosas.
Tem mais. Não adianta o Juarez Leitão e o Sérgio Braga me concitarem a enfrentar a panela light ou a feijoada ecológica do Ponto Final. Nem o Pedro Henrique e o José Teles me instarem as guloseimas e às bebidas espirituosas do restaurante do Ideal Clube. Agora só grelhados na chapa, sem óleo, cardápio de hospital. Nada mais de camembert, de gruyère, dos bries que faziam minha felicidade. Apenas o frescal, o ricota aquele que tem gosto de papelão, de isopor.
Chato de galochas: O pior vai ser a mudança de comportamento. Inexoravelmente tornar-me-ei um chato de galochas. Como me conterei diante das fartas ucharias e das adegas requintadas? É verdade e isto pode pesar a meu favor, no futuro, também vejo estas beldades que se oferecem na tevê, estas Carolinas Ferraz, Ana Paula Arósio, Maria Fernanda Cândido e não me sinto na obrigação de agarrá-las, apalpá-las, sequer lê-las pelo método Braille. Por que faria isto diante dos bons rouges e dos irresistíveis queijos? Páro um pouco e reflito: será que serei mesmo um chato de galocha? por quê galochas se ninguém usa mais tais pisantes?
Porque, como já disse, manterei a lucidez enquanto os outros navegarão docemente para a morte interina, causada pelo álcool. E provavelmente, converter-me-ei em apóstolo da BACOVI, a Barreira Contra o Vício, do Baltazar Barreira. Passarei a apontar, como crimes, a glutoneria e a embriaguez dos amigos. Como aquele rato da anedota que descobriu uma maneira de roubar o mel de um cidadão, ensopando o rabo e chupando-o depois. O certo é que o cidadão colocou uma ratoeira na proximidade da garrafa e quando o roedor se aprestava a roubar o precioso líquido teve o rabo amputado pelo golpe traiçoeiro da maquina. Cotó, ele passou a repreender os outros ratos a quem ensinara a formula de subtrair mel: “pessoal, olhem o mel do homem. Não roubem o mel do homem”. A virtude é monótona, porque, com freqüência, filha legítima da impotência.
Lustosa da Costa