O poeta Ferreira Itajubá, viveu intensamente seus 35 anos. Nascido, não se sabe ao certo, por volta de 21 de agosto de 1877, pelo menos foi o que assinalou o próprio poeta no termo de nomeação para servente na Associação de Praticagem. Nasceu no Rio Grande do Norte, provavelmente na Praia de Touros. Nascido Manuel Virgílio Ferreira, incorporou o Itajubá em seus primeiros versos e depois definitivamente à sua vida. Mas, em uma casa no bairro da Ribeira, em Natal, colocaram uma placa dizendo: “Aqui nasceu o saudoso poeta Ferreira Itajubá, em 21-08-1875”, criando uma controvérsia sobre o nascimento do poeta.
A inconstância aparece no que, em circunstâncias normais, se chamaria de vida profissional. Foi auxiliar do comércio, orador popular, jornalista, professor, funcionário público e dono de circo, cujos espetáculos tinham lugar no quintal de sua casa. Mas acima de qualquer coisa, Ferreira Itajubá exerceu duas principais “funções” em sua passagem por este mundo: a de poeta e de boêmio. “Homem pobre, destacava-se socialmente mais como animador de pastoris nas ruas líricas de Natal. Ou como fundador de um clube carnavalesco popular”, escreveu Manoel Onofre Júnior, observando que Itajubá, já diplomado em boemia, andou fazendo das suas. Mas, ao que tudo indica, ele nunca deixou de ser um “rapaz de família”.
Ferreira Itajubá tinha alma de poeta. “Ferreira Itajubá revelou-se um dos primorosos talentos poéticos do Brasil. Apensar de modesto funcionário do Atheneu, impôs-se pela alta significação da sua poesia”, escreveu Rômulo Wanderley sobre a o nosso poeta.
Com a alma cheia de poesia, não precisou de grandes estudos. Tinha apenas a instrução primária. “Morreu sem suspeitar a existência da gramática”, escreveu Câmara Cascudo, mas não diminui o valor de seus versos, “de um lirismo espontâneo, sonoros e ricos de seiva poética”, como disse Veríssimo de Melo. Na introdução de Poesias Completas - obra que reúne os dois livros de Ferreira Itajubá, Terra Natal e Harmonias do Norte. Esmeraldo Siqueira observa: “No poema de Itajubá, o largo sopro lírico assume facetas sugestivas e variadas. É romântico, amoroso, saudosista, filial, regionalista, patriótico. Não lhe falta mesmo a nuança filosófica, o sentimento da fuga vertiginosa do tempo e da precariedade da vida”.
Em uma bela crônica, abrindo sua coluna diária, na Tribuna do Norte, Woden Madruga escreveu: “Como se comportava Natal há um século atrás, quando o poeta Ferreira Itajubá chamava-a vale ameno e de branca Jericó? A começar pelo próprio Itajubá, figura admirável, talvez o maior talento poético que já possuímos, sem nenhuma formação cultural, sem sequer ter terminado o curso primário, mas, ao mesmo tempo, o primeiro poeta que fugiu da poesia candoreira de um Segundo Wanderley - prolixa e grandiloqüente e dos ativos formalistas dos parnasianos - para incorporar a luz, o chão a paisagem, as cores tropicais, o quotidiano à sua poesia. E que se não chegou a ser uma poesia revolucionária, pelo menos dava um toque único, intransferível, de um talento singular, usando, por exemplo, palavras proparoxítonas, muito antes de Augusto dos Anjos.”
O escritor Esmeraldo Siqueira, na introdução de suas "Poesias Completas", observa: "No poema de Itajubá, o largo sopro lírico assume facetas sugestivas e variadas. É romântico amoroso, saudosista, filial, regionalista, patriótico. Não lhe falta mesmo a nuança filosófica, o sentimento da fuga vertiginosa do tempo e da precariedade da vida."
Sua mãe, a irmã e a misteriosa Branca eram suas fontes de inspiração. Branca era o amor platônico do poeta, às vezes perto, às vezes distante, junto ao marido e que, segundo o escitor Nilson Patriota, em seu livro “Itajubá Esquecido”, poderia ser Emília Ribeiro, nativa da Praia de Touros.
Um hobby curioso do poeta, já homem feito, era o de lançar ao céu, grandes, enormes papagaios de papel de seda. Na época de São João, virava fogueteiro. Seus contemporâneos afirmam que escandalizava a cidade com tremendos busca-pés, espantando mulheres, velhos e crianças.
Colaborou em todos os jornais da época, fundando "O Eco". Mas, raramente em jornais como "A República" e o "Rio Grande do Norte", órgãos políticos e sisudos, incompatíveis com a boêmia de Itajubá.
Não encontrando em Natal recursos cirúrgicos para o mal que o afligia, viaja ao Rio de Janeiro, onde foi operado e morreu a 30 de junho de 1912. Seus restos mortais, mais tarde, foram trazidos para Natal por Henrique Castriciano. Este os depositou temporariamente, no ossuário da Igreja do Bom Jesus das Dores. Esperava oportunidade para mandar construir o túmulo do poeta. Um frade, entretanto, numa das remodelações da igreja, juntou as velharias todas existentes, inclusive ossos que encontrou aqui e ali (os de Itajubá estavam no meio) e lançou tudo numa vala comum, ao lado da igreja.
Alexandro Gurgel