Idos de 49, numa capital do Nordeste.
O castelo Nena-Nina, lotado por jovens boêmios da região, frequência esta, propositalmente zoneada.
Os coronéis-pais, no bordel de Norminha-Peluda. Os fogosos filhos deles no Nena-Nina, evitando assim constrangimentos disputamentários ou mexericos afins.
Os juvênios trocavam juras com as futuras mães-de-seus filhos e excitados corriam pro Nena-Nina, bandeiras hasteadas rumo ao lado porrêta do dia. Noites pauleiras, aonde, entre discussões políticas, desabafos e grandes porres, navegavam a todo pano os corpos das moças-damas.
Mas... de repente, até os eleitos notaram a rejeição por parte de suas lupanares companheiras.
Greve ??
Seria a solícita Kovska descolando o fungo de suas fendas de alabastro tatuadas em Awshevitz ? E por que logo ali e agora, subverter as camaradas ??
Eles não entendiam o descaso, elas já não os atendiam prontamente, cochichavam segredosas.
Cabritas da peste! desabafavam os moços trancafiados na saleta reservada a assuntos estrategistas. Não passariam recibo dessa mágoa mas questionavam em circulo tal pouco-se-me-dá.
Nicodemo Pessoa, vate do grupo, analisava todos os possíveis ângulos, e Dr. José Gondinho, advogado, cirurgiava o âmago da questão.
Ao fim da noite declararam:
“Homem gosta mesmo é de homem, mullher é vício!!" e, com seus dolorosos sacos, iam pra casa em busca duma meia que lhes abrigasse a punheta.
E a situacao continuava. Esclarecimento? Nem cabível nem legal.
Ascânio Dias Pimenta, antecipado derrotista, abreviou noivado com a filha do prefeito Ariovaldo Amora. Após o casório e longa ausência putaneira, foram os rapazes ao Nena-Nina verificar o andamento rejeitatório.
Surpresa... todas elas volteando um só homem ! O chamavam Capitão; senhor de longas cãs, cinquenta anos de mar. Esguio e curtido, trazia no consistente bíceps direito uma cobra tatuada, mas que lingua!
Cachimbo canteando a boca e apesar do acento gringado, falava um correto português, além de mais seis línguas entre o latim e o grego arcaico. Eis von Dutth! holandês porreta, mimado pela côrte castelã. As meninas, em gentis plies entre bebericos e comidelhas ao visiteiro.
Um só homem ocupando o lugar de tantos na fragata Nena-Nina, com primazia gratuita na escolha de rota?
Os rejeitados moços se imaginavam chororôs à beira-cais, acenando, e elas em arrebitadas tocas de organdí, agregadas ao holandês — virabosta ao ombro — piratão, isso é que não!!
Foram os rapazes ao tribuno, revolução?
Inquerido asperamente, o marinheiro holandês sorriu soberano e discorreu sobre o acidente com um cardume carnívoro, que o deixou -aos trinta anos- falicamente indisposto ad eternum. Mesmo assim, não naufragara perante as delícias da vida. E finalmente arrematou à bombordo da boca:
— Já nôn poderria prraticarrr, massh non deverria me insurgirr contrra móviméntus popularres vitorriososss, hó hó !”
Com o consentimento do casal Nena-Nina e a parceria de Esmeralda Tanajura, de portas abertas mostrou as habilidades adiquiridas apos a perda fálica. Evolução.
Os voyeristas enlouqueceram, semana toda ali domiciliados. Não atinavam que aquele tipo de moça pudesse ter preferências reais.
Até que chegou o momento de resgatarem, cada um, sua patente na corte.
Capitão-Mór voltou ao mar.
Os rapazes dalí tornaram-se grandes amantes, juntando ao antigo papi-mami, ardentes poliglotices ao sul do equador castelânico.
Em parceria, Nena mudou seu castelo para uma antiga fazenda, onde gritos democráticos agitavam asas brancas, caburés e carcarás.
Nina ficou na matriz com os que preferiam continuar feito bifes nas camas das meninas-damas. E a cia. Nena-Nina S/A francamente prosperava.
Desde então, a frase “Não devo me insurgir aos movimentos populares vitoriosos”... incorporou-se ao dialeto-discursivo da coronelagem político-ficcionista.
Cláudia Pacce