Hoje resolvi escrever algo que há muito observo, sem nunca ter tocado no assunto. A escolha do tema se deve, sobretudo, a um leitor ter me procurado e contado sua comovente história... Resolvi dividir com você, caro leitor, para que possa tirar suas próprias conclusões sobre o assunto.
Eustáquio Pires, 52 anos, proveniente de Ipatinga, Minas Gerais, residente em Massachusetts, fez questão que eu mencionasse o nome dele, pois acha que sua história poderá alertar outras pessoas.
Ficou horas me contando sua vida, sua batalha aqui nos Estados unidos, trabalhando setenta horas por semana, enviando todas suas economias ao Brasil, para a esposa e os filhos que lá ficaram. Certo de que ela estava aplicando o dinheiro em algo produtivo. Porém, descobriu, por acaso, que a esposa recentemente havia abandonado o lar, os filhos mais velhos em casa, e simplesmente gastou todo o dinheiro, estando ainda endividada.
Um verdadeiro baque para esse senhor humilde, que há quatro anos encontra-se aqui nos EUA, trabalhando em busca de um futuro melhor para si e sua família.
"Ângela, você sabe como a vida nos Estados Unidos é difícil, como trabalhamos... Quase não tenho tempo para pensar em minha vida, pois quando a noite chega o cansaço é tanto que só quero dormir. Para mim, saber que estava construindo um futuro para minha família, era a força necessária que me incentivava a batalhar aqui nesse país. Tudo o que a esposa pedia eu enviava, confiando na pessoa que sempre foi tão carinhosa e amável comigo", disse Eustáquio, com a voz embargada de emoção.
E continuou: "Muitas vezes meus amigos aqui me alertaram para que eu guardasse um pouco de minhas economias, para que procurasse me informar melhor onde o dinheiro estava sendo aplicado. Mas não possuo familiares na mesma cidade, e como confiava plenamente na esposa, eu nunca dei atenção ao conselho de meus amigos. Na minha consciência, eu tinha certeza que fazia a coisa certa. Estava sendo um bom marido por não deixar faltar nada do que me era solicitado. Agora meu mundo desabou... Não sei o que fazer. Ainda bem que possuo uma filha de 18 anos, do primeiro casamento — sou viúvo de minha primeira esposa —, e assim posso enviar dinheiro no nome dela para que ela possa cuidar de meus outros filhos, que agora estão sob os seus cuidados. Não posso retornar ao Brasil agora. Primeiro, porque não possuo condições monetárias; segundo, porque meus documentos de legalização estão sendo processados e não posso perder essa oportunidade de legalizar-me... A única coisa que me resta agora é ter fé... Por esse motivo, procurei-a, pois quero que você alerte as pessoas para que fiquem mais atentos ao enviar todo o fruto de seu suor ao Brasil", relatou Eustáquio, quase implorando para que eu descrevesse sua história.
Grande parte das pessoas que aqui estão enviam remessas monetárias ao Brasil. Uns o fazem para sustentar a família que lá se encontra, outros o fazem para investir em algum tipo de comércio, ou, ainda, para deixar o dinheiro guardado.
A verdade é que casas de remessas estão espalhadas por todos os cantos dos Estados Unidos, tamanho é o volume de dinheiro que os "brazucas" enviam ao Brasil, na esperança de realizar seus sonhos e/ou suprirem necessidades de familiares e parentes, sejam quais forem os motivos.
Através de um pequeno levantamento, em algumas casas de remessas locais, indaguei 20 pessoas que estavam remetendo quantias monetárias. Desse número, 15 estavam enviando para cobrir despesas de familiares, três para construir uma residência e dois tinham comércio já montado e funcionando em terras brasileiras. Concluí que 75% estão trabalhando aqui para sustentar outras pessoas. É um número relativamente alto e ao mesmo tempo já esperado.
Agora pergunto, caro leitor, como fica a vida de uma pessoa, como Eustáquio, por exemplo, ao descobrir que esses anos todos foram desperdiçados de certa maneira, e que terá que reiniciar toda a sua batalha, começando do zero?
Admiro pessoas que, como ele, responsáveis e cientes de suas obrigações, como pai e marido, aqui estão e não esquecem a família distante; e Eustáquio também merece admiração como ser humano, por querer que sua história sirva de alerta a muitos que aqui se encontram, não se importando em ser alvo de comentários maliciosos de pessoas que poderão vir a julgar...
Que seu exemplo sirva para nos mostrar que devemos ter responsabilidades para com as pessoas que amamos. Mas, que possamos passar a amar um pouco mais a nós mesmos e reservar um pouco do fruto de nosso suor para situações de emergências que possam surgir em nossa vida. Isso não é um ato de egoísmo, e sim de precaução. Afinal, o futuro é incerto...
Ângela Bretas