Quando Heleninha decidiu fazer uma festa para comemorar os seus quinze anos nos chamou num canto e avisou:
— Vocês não vão ser convidados!
Ela era nossa amiga de praia, mas sabia que vivíamos metidos em confusão, e, por questões de segurança, resolveu retirar da sua lista eu, Helinho, Jorge, Tenório e outros.
— Gaguinho, então, nem pensar! - continuou afirmando.
— Mas Heleninha, nós prometemos nos comportar. Ninguém vai arrumar nenhuma confusão. E, além disso, se nós não formos vai faltar homem na sua festa.
— Negativo! Eu prefiro dançar com mulher do que correr o risco com vocês lá dentro.
Não teve jeito. A solução seria arrumar algum caminho alternativo, o que não tardou a ocorrer. O convite era muito fácil de falsificar, e, um dos nossos amigos, que tinha um parente que trabalhava numa gráfica, conseguiu imprimir onze convites adicionais. Não me lembro bem o porque deste número, mas foi o que ele fez. Tudo o que tínhamos que fazer era mostrar o convite ao porteiro e entrar.
Na noite da festa, caprichamos nos nossos ternos, pois a festa exigia traje passeio completo. Heleninha morava na Praia de Icaraí, em frente a Pedra do Índio, perto do Clube Regatas Icaraí, onde costumávamos passar as nossas horas de ócio. Antes de irmos, ficamos no bar do clube bebendo algumas cuba-libres, que era a bebida da época, e, para quem não conhece, tratava-se de uma mistura de rum com coca-cola. De tanto beber essa terrível mistura, eu tomei um enjôo de rum, e, atualmente, só de ver uma garrafa de rum já sinto vontade de vomitar, mas naquela época a bebida servia para quebrar algumas barreiras que a timidez se encarregava de erguer.
No caminho da casa de Heleninha, já um pouco mamados, cruzamos com um mendigo, que apesar de muito sujo, estava também de terno. Neste momento, alguém sugeriu que usássemos com o mendigo o convite que tinha ficado sobrando, pois o homem da gráfica tinha impresso onze cópias.
Na confusão da portaria, com dez pessoas chegando ao mesmo tempo, o porteiro não percebeu que o mendigo tinha entrado junto.
O mendigo não se fez de rogado, tomou logo umas três cuba-libres de um só gole, devorou um prato inteiro de canapés, e, não contente, resolveu ir para o centro do salão dançar twist. O problema era que a música tinha começado, mas não tinha ninguém no meio do salão, apenas o mendigo, imundo, dançando espalhafatosamente. Ele e Helinho, que resolveu acompanha-lo, para não deixar o pobre rapaz constrangido.
O engraçado foi que Heleninha viu primeiro Helinho dançando e gritou:
— Olha lá o Helinho! Quem foi que deixou ele entrar! - olhou para outro lado do salão e viu o resto do grupo rindo - Entraram todos! Chamem os seguranças!
Os seguranças surgiram rapidamente e em poucos minutos estávamos os dez na rua. O que não era um prejuízo completo, pois não tínhamos perdido tempo com as comidas. Ficamos na porta do edifício conversando e rindo durante uns quinze ou vinte minutos, até que os seguranças aparecessem novamente, agora sim, carregando o mendigo. Heleninha estava tão preocupada conosco que não tinha percebido.
Emerson Rios