MORTE VIRTUAL
 
Era um dos mais animados do grupo. Espontâneo, criticava os que reprimiam os colegas e fazia do seu humor refinado um forte motivo para que ninguém quisesse sair da lista.
 
Um verdadeiro amigo. Claro que ninguém é perfeito e ele, de vez em quando, dava suas vaciladas, criando algumas pequenas intrigas. Porém nada que o fizesse ser rotulado de injusto ou de canalha.
 
Temperamental, às vezes saía do rol, alegando um motivo particular qualquer que deixava todos desnorteados, pensando se houvera algum episódio no grupo para que ele fizesse aquilo. Súbito, uma semana depois, lá estava ele de volta, com mais uma piada hilariante, que deixava as pessoas desconsertadas.
 
Já se iam dois anos de um agradável relacionamento, quando num desses papos mais esquentados, bateu tecla com um grande amigo da lista, de tal maneira que ficou perceptível aos demais que a coisa não havia terminado bem. Ficou calado por um tempo, mas, alguns dias depois, voltou com a irreverência que lhe era característica, contando alguns “causos” e piadas que deixaram todos mais relaxados. Quando, aproveitando a descontração, o amigo com o qual discutiu tentou um novo diálogo, novamente, ele se calou. As pessoas, apreensivas, esperavam uma resposta que quebrasse o gelo, mas ela não veio.
 
Passaram-se duas, três, quatro semanas e nada. Depois de muitas comunicações não correspondidas em pvt, finalmente, do seu endereço eletrônico chegou uma mensagem do filho, comunicando o seu falecimento.
 
O grupo ficou inerte. Ninguém escrevia mais nada. Depois de muito tempo, alguns ameaçaram um reinício, mas não havia fôlego suficiente para tal. Proprietário e moderador abandonaram suas funções. Cada um procurou um caminho diferente e a lista caiu no frio vazio da web. Alguns acabaram encontrando-se em novas formações, mas ninguém, jamais, teve vontade de esticar conversas que relembrassem a morte do grande amigo.

Felipe Cerquize

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