Vivemos à beira de um verdadeiro ataque de nervos. Desde os tempos de "vovó viu a uva", nos vemos em eternos enredos das flechas esculpidas por nossas próprias vaidades, tendo ainda suas pontas envenenadas por nossas línguas.
Falo de mim, de você, de nós, de todo mundo. Acabamos de nos corromper de vez, amparados que estamos por nossas próprias vontades.
A pergunta fica no ar:
– Que mal há nisso?
Garanto-lhes que não há mal algum. A não ser quando não vemos o nosso reflexo no espelho.
"(...)Somos de água e fogo,
De fogo e água(...)"
Na verdade, estes meus versos fazem parte de um poema impregnado de cio, mas cabem como luva em qualquer situação. Não faz muito tempo, cheguei ao meu local de trabalho e, como sempre costumo fazer, cumprimentei a todos com um sonoro "Bom dia!" Um dos colegas lançou um olhar fulminante para mim e me perguntou: Porquê? Isso foi o suficiente para que o restante do meu dia fosse movido à tristeza. Sensibilidade exacerbada? Não. Foi burrice mesmo.
"(...) Somos de água e fogo,
De fogo e água (...)"
Permiti que uma gota d'água apagasse o fogo que havia dentro de mim. Não quero dizer com isso que eu deveria ter saído por aí cuspindo fogo para todo lado, não é isso. Mas poderia ter um dia muito mais proveitoso se eu continuasse distribuindo calor.
Acabo de ver uma cena muito interessante neste exato momento. Pano de
fundo: uma fazenda no Arraial do Junco. Personagens principais:
1 Um matuto criado entre as maravilhas que o interior do Estado oferece;
2 Uma mulher criada entre as maravilhas que a cidade grande oferece.
Enredo: Uma paixão avassaladora. Daquelas que o tesão
queima noite e dia, dia e noite.
Uma das cenas:
– Se você for embora o pasto vai
secar, o leite da vaca vai azedar, os bezerros vão minguar, a leitoa
não vai parir, o adubo não vai servir para mais nada – diz
o matuto apaixonado.
– Não sei como você pode
tolerar uma coisa dessas. Um desclassificado falando deste jeito com você.
Comparando o seu amor a estrume de vaca – diz a mãe da mocinha.
– Pois eu jamais ouvi em toda a minha
vida, poesia mais linda. Nunca, em tempo algum, alguém se declarou
desta forma para mim – diz a mocinha.
Vivemos assim. Enaltecendo as diferenças de uns, em prol das diferenças de outros. Quando na verdade, nós é que podemos fazer e ser a própria diferença.
Conversa mais besta essa, não? Não parece, pois vivemos tropeçando nas mesmas pedras.
Pintamos a frente da nossa casa, colocamos novas cortinas nas janelas e continuamos morando sobre palafitas.
"(...) Somos de água e fogo,
De fogo e água (...)"