O Mito Brizola – O Maior Político da República Brasileira

“Hoje não teve aula. Mataram o Dono do CIEPS...”
(Aluno da Comunidade Vilar Carioca, um dos lugares mais Violentos do Rio, sobre a morte do Ex-Governador Brizola)

Quando eu era muito guri ainda, já algo precoce, confesso, eu que sou de 19.08 (como Bill Clinton) do ano de 1952, piá de tudo, era convidado pelo meu pai notívago a, ficar ouvindo a Rádio Mairink Veiga (do Rio de Janeiro – emissoras dessa capital maravilhosa estranhamente pegam muito bem em Itararé, sudoeste do Estado de São Paulo, divisa com o Estado do Paraná) - e, entre estáticas (o aparelho era um amelado rádio Semp maior do que um microondas hoje) eu ficava curioso e açodado de ânimos a ouvir as intrépidas brigas homéricas entre o Lacerda (corvo da democracia, meio que como o Vampiro Zé Serra hoje); o João Goulart (Presidente Jango), e o jovem e aguerrido Leonel Brizola – Cadeia da Legalidade - destemido como sempre, mesmo tachado pela corja reacionária paulistana de “incendiário”, pecha que nunca pegou por inteiro, pois, claro, Brizola foi melhor do que toda a Canalha de 1964 (apoiada por reacionários paulistas corruptos como Ademar de Barros), de Castelo Branco ao Figueiredo, e, extremamente justo, transparente e lúcido, bem ao contrário de Tancredo, Sarney, Collor (Fernando Um, o janota), Itamar e FHC (Fernando Dois, o babaquara boçal).

Pois eu, tinha então malemal dez anos nessa época, e, muito mais do que algo alfabetizado em casa, era sim, muito bem politizado em casa também, tendo, de castigo, além de ler a Bíblia Protestante, ler Seleções, Revista Fatos e Fotos, o Jornal Estadão, etc. Meu pai, o Maestro Antenor Corrêa Leite (nome de rua hoje em Itararé), poeta, compositor, regente-fundador de corais sacros, paradoxalmente se afirmava comunista (recebia panfletos do partidão dizendo “Matem o Patrão!”) e, ainda assim era crente de carteirinha, como se dizia à época. Pois meu pai que tinha sido Janista roxo, usava bigode e óculos como o Fujânio (era muito parecido com ele, como eu fiquei também algo parecido nos meus vinte anos blues), e quando o Jânio de porre aprontou a renúncia que visava um golpe (sei de toda a verdadeira historinha de cor e salteada contada por emérito membro da Juventude Janista da época), meu pai ficou um fuzilo, depauperado, teve crises, angustiou-se, mas, apoiou que o vice-presidente Jango tomasse posse. Pois o herói natural, Brizola bancou essa resistência democrática – era um gaúcho macho de grosso calibre e dialética fora de série – e eu e meu pai toda noite lá estávamos alvoroçados, comendo pão-paraná com pescada Leal Santos (meu pai comprava da Padaria Pão de Ouro quando vinha da Assembléia de Deus depois do culto), curtindo a canalhice do abutre Lacerda, a coragem e a coerência do Brizola na Cadeia da Legalidade, e, uma pena, a fragilidade pura do Jango que infelizmente não foi longe pelos envolvimentos temporões em detrimento de uma burguesa oligarquia azeitada por agiotas do capital estrangeiro.

Foi nessa época, ainda muito imberbe, que comecei a me formar em filosofia política, a partir do maior político do Brasil de todos os tempos: Leonel de Moura Brizola. A ditadura militar incompetente, corrupta, violenta e senil tomando o poder (nos legaram Maluf, Delfim Neto, Jarbas Passarinho e um bando de corja pertinente), colocou Dr. Leonel Brizola no exílio; tentaram matá-lo várias vezes mesmo fora do país; a própria Operação Condor (com corruptos hispanos milicos de outros países entrevados) tentou apagar sua luz ético-latino-americana, mas, Brizola, bem casado – a família de sua esposa era muito rica – conseguiu (pagando um alto preço), escapar daqui e dali, fugindo como pode de jagunços paramilitares, até ir para a Europa onde era e é admirado, tanto quanto o Metalúrgico Lula.

Passei os tempos tenebrosos do regime de arbítrio, como muita gente lúcida, sonhando não apenas com a volta do irmão do Henfil, mas com o retorno do Mito Brizola, nosso maior social-democrata, ele mesmo a bandeira de todo partido que tomava, ele próprio uma filosofia sócio-humanista de vida em alma cidadã. Veio a época das Diretas Já, Brizola era o mito de antes do funesto golpe, Lula com Ulisses Guimarães eram os líderes dos novos tempos do PMDB, então notória trincheira da legalidade. Chorei quando Brizola voltou ao Brasil. Passei telegrama, escrevi emocionado, mandei carta pro Pasquim. O filho mais ilustre do país não poderia continuar fora dele.

Muito crescido, já estudando e morando em Sampa, sabendo que Brizola estava na Assembléia Legislativa do Ibirapuera para receber em filiação um político paulista em seu partido trabalhista, lá me fui todo honrado, engajado de terno, gravata e coração, ver Brizola ao vivo, quando lhe entreguei um poema pueril que fizera quando muito moço ainda, sonhador e saudoso em sua homenagem de meu ídolo-mestre. Ele leu o poema logo depois, e comentou, após o Programa Flávio Cavalcante onde participou (ao vivo recebeu flores de companheiros-camaradas, inclusive o Heródoto Barbeiro nosso amigo), se emocionou, agradeceu termos fundado o M.P.L.B – Movimento Pela Libertação do Brasil/Movimento Leonel Brizola (foi destaque na Folha com um símbolo do Zorro-Brizola em espada na mão), daí certamente se originando a histórica marcha pelas Diretas Já.

Lembrei-me também agora, que fui convidado a falar em plenária e me depositei loquaz ali, rendido à honra pelo orgulho do que ele era de popular, altivo; do que fizera ao país, sem esmorecer; as mãos limpas, e, tempos depois, lá estava o Brizola fazendo os pioneiros e fundamentais CIEPS no Rio de Janeiro, obras abandonadas depois por seus sucessores rastaquaras em posturas hediondas, e daí se vê o que ó Rio se restou hoje, porque não é preciso construir cadeiões de segurança máxima, se você ergue escolas integrais e com estruturas que fundam seres e cidadãos. Era o olho vivo de Brizola nas dívidas sociais impagas desde 1964, quando não quiseram uma Reforma Agrária – as bestas olivas achavam coisa de comunista – e daí para a Favela Brasil Ordem e Progresso foi questão de história escrita pelos levianos dos infames podres poderes da exceção.

Ah se tivessem feito a Reforma Agrária em 1964 (acabado com o êxodo rural); se a partir de então o salário mínimo não fosse só mínimo mesmo – daí se vê o visionário Brizola tachado de populista – quando ele se manteve coerente, firme, não se vendeu, acho que, sim, terá sido mesmo o melhor político Brasileiro desde 1500. Uma lenda agora. Um mito sempre.

Lembro-me que ainda jovem, o Brizola em campanha, vinham jornalistas correspondentes do mundo inteiro ao Brasil, e iam entrevistar primeiro o presidente institucional (qualquer que fosse oficial) e também entrevistavam o Lula – líder do proletariado ascendente– e Leonel Brizola, famoso no mundo inteiro, muito querido e admirado (com trânsito) na Europa toda, muito respeitado e defendido por lá, como um símbolo de resistência da sobrevivente ética política brasileira às sandices anticomunistas que fundaram o abismal do militarismo burro made in Cia (e um bocó medo do Fidel Castro).

Estou escrevendo isso num apanhado emocional imediatista; confesso, de chofre, chocado com a morte do meu primeiro ídolo, o Brizola. (“Não existe razão/Nas coisas feitas pelo coração – Canta na FM o Renato Russo, lembro que essa frase tem a cara do Leonel Brizola). Sim, estou chocado porque ele mesmo foi uma bandeira nacional, um homem sério de propósitos, simples de abraços, puro de visão, onde, perto dele nenhum tucano chiava e FHC então, comprado á ele, Brizola, nem existiu humanisticamente mesmo, principalmente pelo engodo eleitoreiro do maquiavélico Plano Real (via FMI) e das privatizações-roubos, mais os milhões que suspeitamente “herdou” agora (de banqueiros) para metido a sebo fundar o seu insosso Instituto FHC que, certamente, servirá para aliciar gaiatos e treinar cobaias tucanas para provocar novos engodos midiáticos de políticas vazias e resultados político-administrativos pífios, vergonhosos...

Brizola é o instituto da democracia, da legalidade. Brizola sempre haverá. Essa citação que me ocorre agora, parafraseia o mote dos Anos 40 “Sempre Haverá Paris”, usado pelos invadidos franceses, quando o hitlerismodo nazismo tomara a capital das luzes. Pois Brizola, apesar do PSDB – tucanos não cantam, não nadam, não voam, não governam - e, apesar do patético erro histórico do PDT paulistano - em decadência? - apontado um mané como candidato para boicotar a Marta Suplicy (o chinfrim Paulinho da Força Sindical) que já foi marionete (ou vaquinha de presépio) de Collor, Maluf, FHC, etc. ainda é um nome, um referencial, um ser datado de antes de 1960 e que entrou no século trinta com a cara limpa e as bravezas que fizeram justiça e buscaram um Brasil para os brasileiros. Brizola foi o maior e o melhor deles. Nunca haverá outro de sua grandeza histórica.

Aquela frase do ser imprescindível é feita prontinha para o Brizola. Um Rio de Janeiro reunificado pela paz social e pela justiça ainda que tardia é Brizola. O Brasil que queremos é o Brizola como símbolo máster, não um cassino que vende riquezas a preço de banana, e, ainda, pior, não pagou a sua dívida social herdada depois da Libertação de escravos (libertaram mas não indenizaram): depois do estúpido Golpe de 64, e, pior, depois do FHC, o Pai da Fome, um ex-marxista, ex-sociólogo – (esqueçam tudo o que eu falei) - que seqüestrou o sonho de milhões de descamisados, entregando pro Lula Light, um país doente, falido, de milhões de desempregados, mendigos, prostituição infantil e outras atrocidades mais na linha da miséria-lastro de seus dois mandatos de desgoverno anti-social.

Brizola foi tudo isso e muito mais. Um patriota!

Nossa República sem ele teria falido completamente. Nossa democracia em ele teria quebrado sua cadeia de legalidade ético-constitucional.

Vai fazer falta.

Que Deus ajude o Lula a encampar as idéias básicas do Brizola, e a transformar esse Brasil S/A mestiço numa social-democracia morena sem dívidas sociais, sem lucros impunes, sem riquezas injustas.

Vá com Deus Brizola; vá ser gauche no céu de todas as honras!.

Teu nome é luta!

Silas Corrêa Leite

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