Uma visita às pirâmides

Recordando meus cursos de controle mental, me lembrei de um em que o mais enfatizado assunto, a semana inteira de duração do curso, era “pirâmides”. O grau certo dos ângulos, as pirâmides invertidas abaixo do solo, o alinhamento que elas fazem (ou faziam, lá no tempo em que foram construídas)unindo o centro geodésico da terra ao centro geodésico do sol, o norte verdadeiro e o norte magnético, e por aí vai, uma série de aspectos correlacionados aos monumentos que tanto fascinam o ser humano. Quem nunca teve sua fase de encantamento pelas pirâmides? Há todo um mistério cercando-as que nos levam a fantasiar várias hipóteses. Nossa imaginação voa solta. Uma vontade impulsiva de conhecê-las de perto. Que poder é esse que elas emanam sobre nós?
Houve uma época em que havia ao menos uma réplica da grande pirâmide em quase todas as casas aonde se ia. Até filtro de água em formato de pirâmide já vi.
Bem, voltando ao curso, a menos de uma quadra de distância do local havia uma loja de artigos místicos que vendia as tais pirâmides. De materiais e cores diferenciados, tamanhos minúsculos ou imensas réplicas em cobre, sustentadas por uma cadeira especial para que o feliz comprador pudesse desfrutar de seus benefícios, após orientá-la conforme a bússola para apropriada, a qual apontava para o NORTE VERDADEIRO. Vinham acompanhadas de manual de instrução, manual de orientação, manual de uso, discriminação da aplicação conforme a cor, enfim, havia toda uma filosofia — por trás da comercialização do produto — muito bem estruturada, baseada em tratados e mais tratados que aferiam autenticidade ao mesmo. Ouvi relatos de pessoas que quase se curaram de enfermidades graves apenas com o uso das tais pirâmides. Um comércio surpreendente! Teve gente que montou fábrica de pirâmides e ganhou muito com isso. Havia, inclusive, um detalhe curioso: deveria ter, obrigatoriamente, um fio de cobre percorrendo as hastes de sustentação, unindo-se ao cume (ou ápice) central, para que as mesmas surtissem efeitos e resultados satisfatórios. Pois bem: uma semana inteira ouvindo sobre as pirâmides, as réplicas, experiências, milagres aferidos aos usos corretos das mesmas e mais uma infinidade de vantagens. Todos corríamos à tal lojinha para que pudéssemos também desfrutar dessa maravilha, claro, pois agora tínhamos as técnicas de uso.
Ah, que universo mágico! Livros e mais livros de “doutores em pirâmides” foram vendidos à época! Os faraós nos presenteavam com sua sabedoria divina, através da matemática das pirâmides!
Último dia de aula e demoliram minhas pirâmides todas: a azul (para tranqüilidade e meditação), a vermelha (para energia) e até a enorme pirâmide com cadeira portátil, todinha em cobre, que meu pai comprou (para a saúde e muitas outras aplicações: esta, a melhor de todas, pelo material concentrador de energia cósmica). O palestrante dirigiu um trator e passou por cima de todas, quando nos deu a última informação sobre o assunto, de importância vital: dentro do cérebro, na parte posterior, os seres humanos possuem células que são verdadeiras réplicas perfeitas das pirâmides  — ou seria o contrário? — Bem, o fato é que me senti uma idiota, pois bastaria que usássemos a tal bússola devidamente orientada, ficássemos de frente para o norte, concentrássemos numa cor e pronto! Então, pra que aquelas pirâmides parecidas com aqueles antigos chapéus de burro?
Sei lá! Só sei que, na hora, comecei a rir sozinha imaginando todos nós, ávidos alunos, sentadinhos numa alta banqueta com as pirâmides na cabeça, envoltos por uma faixa na testa onde se lia: BURRO!
E assim terminei minha primeira fase esotérica e meu estudo sobre o assunto: o conhecimento fundamental deve estar implícito em meus neurônios piramidais, com certeza!

Thaty Marcondes

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