COMBATE ÀS AMEBAS

– Maria Júlia, sabe onde fui parar ontem?

– Não.

– No consultório de um proctologista.

– Você está doente, Rosângela?

– Não. Sem mais nem menos, tive uma dor tão forte na barriga que o meu marido me levou lá. O pior de tudo foi o exame de retosigmoidoscopia que me fizeram. Quase morri de vergonha. O médico, que por sinal é uma gracinha, disse que estou com ameba.

– Ameba?! Que horror!!! Como você pegou isso?

– Ele disse que foi nas verduras. Agora, tenho que pôr tudo de molho na água com uma colher de sopa de água sanitária durante duas horas, antes de temperar.

– É mesmo?! Então, o Alex está com esse bicho até a alma. Ele não come sem verdura.

No outro dia, na hora do almoço...

– Pepé, a alface está com um gosto tão estranho!

– É impressão sua, Alex. – meu Deus, acho que exagerei na água sanitária! Xiiiiiiii! Esqueci de perguntar à minha amiga se depois era para enxaguar as folhas! – pensou a esposa aflita.

– Que gosto horrível!!! O que você pôs neste tempero, mulher?

– Nada. O de sempre. – Senhor, não o deixe passar mal, por favor! – Suplicou a mulher.

– Huuummmm!!! Que cheiro forte é este, Pepé?! Está parecendo aquele negócio que a mamãe usa para clarear pano de prato! Como é o nome daquele troço?

– É Kboa, amor. – disse tentando manter a calma.

– Você está querendo me branquear? Está me achando com cara do Maicon Jackson?

– Juro que não. Desculpe. Só queria matar as suas amebas. – e correu para lavar as folhas.

– A-me-ba?! Quem te disse que tenho esse verme?! Está doida?! Fiz exame e não deu nada!

– A Rosângela também fez e não acusou.

– E o que eu tenho com isso? Então, você botou alvejante, mesmo?! Não adianta negar! Pelo pulo que deu da mesa até a pia, eu percebi que você tem culpa no cartório! E agora? Se eu morrer você será a única culpada!

À noite, depois de vigiar o marido o resto do dia para ver se ele estava bem...

– Alex, o seu sanduíche está pronto. Venha comer.

– Você fez de quê?

– De atum com ricota, do jeito que você gosta. Você está bonzinho, amor?

– Estou. Eca!!! Você pôs aquela alface do almoço no meu sanduíche?!

– Lógico, mas enxagüei bastante com água filtrada. Pode comer sem susto.

– Pepé, olhe como as folhas descoraram. Já entendi tudo. Você está a fim de me descorar, também, mas vai ter que se contentar comigo assim mesmo, viu?

– Descorou, não, amor. A cor dela é assim mesmo. Já não se faz mais alface como antigamente. Hoje em dia ela já vem opilada lá da roça.

– Opilada?! Gozado, a que eu comi ontem, lá no serviço, era verdinha, verdinha. Bem, vamos deixar isso para lá porque o rapaz do vídeo vai chegar com os filmes que encomendei e quero assisti-los. Aproveite que está em pé e pegue o catchup, a mostarda, o molho inglês, o sal, o vinagre, o aji-no-moto, o limão, a pimenta do reino, o shoyu, o azeite, o gril, e a ...

– Virgem Maria!!! Que exagero! Não já chega de tempero, não?

– Não. Está faltando aquele toque final.

– O quê?

– A Kboa.

Anna Célia Dias Curtinhas

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