TERRORISMO

11 de setembro de 2001.

 —  Meu bem, corre!!! Olha o que está acontecendo nos Estados Unidos!!! Dois aviões bateram nas torres gêmeas e elas estão caindo!!! Meu Deus, o que será do nosso filho?!

- Não se preocupe, ele está a três horas de trem de Nova Iorque. Como foi essa tragédia?!

— O repórter disse que foi um terrorista chamado... É um tal de ... De... Ah, me esqueci!

—  Pena que não dá para vermos agora, pois, temos que ir ao médico e estamos atrasados.

No consultório...

—  Doutor, por que a radiografia do José está escura?

—  Porque ele fumou durante vinte anos.

—  Que legal, a minha está clarinha!

—  É, mas tem muitas cicatrizes. A senhora teve alguma doença no pulmão?

—  Não! Só o meu pai, mas há muitos anos. E o bom é que nunca pus um cigarro na boca.

—  Não é preciso fumar para ter doença pulmonar. A senhora vai comprar um aparelho, inspirar as bolinhas e voltar aqui.

—  E eu?

—  O senhor não precisa. O que tinha que ser feito nos seus pulmões já está feito.

Um mês depois...

—  Doutor, sinto muito, mas não comprei o aparelhinho que o senhor me receitou.

—  A senhora está brincando com a sua vida. Seus pulmões não estão nada bons. Sua radiografia acusou isto, isto, isto, isto, isto, isto, isto e mais isto. Está vendo como eles envelheceram? É preciso exercitá-los para que rejuvenesçam pelo menos um pouco.

— Posso ter enfisema, como o meu pai?

—  Também. A senhora sentirá cansaço e falta de ar. Tome esta vacina durante 45 dias, em jejum, por causa da sua imunidade que está muito baixa e volte para fazer um teste.

Em casa...

—  Meu bem, estou muito mal. Meus pulmões estão péssimos. Compre logo o aparelho para eu começar os exercícios. Ô meu Deus, logo agora que os meus netos vão nascer, estou com os pulmões tão velhinhos! Meus dias estão contados.

Imediatamente, meu marido comprou o tal aparelho e eu fiz o exercício até fazer vômito.

A tristeza tomou conta de mim, da nossa família e dos nossos amigos.

—  O que é isso, mãe?! Pra quê a senhora está soprando essas bolinhas?

—  Porque os meus pulmões envelheceram antes do tempo, minha filha.

—  Que horror!!! Mas a senhora nunca fumou! Vá em outro médico para ver o que ele diz.

Dias depois...

—  Boa tarde! O que os trouxe aqui no meu consultório, depois de tanto tempo?

—  Os pulmões dela, doutor, que estão velhos. – disse meu esposo muito triste.

—  O quêêêêêêêê?! O senhor disse ve-lhos?! Co-mo?!

—  É verdade. Eles envelheceram antes dos meus outros órgãos. O médico disse que vou sentir cansaço e também falta de ar. Hoje já amanheci muito cansada e quase não agüentei fazer a catequese. Estou fazendo exercícios de respiração e tenho que comprar esta vacina.

—  O meu colega é advinho?

—  Não sei, não senhor.

—  A senhora não tem nada de grave. Estas cicatrizes são normais. São resultados de doenças que já foram curadas ou foram contatos que a senhora teve com pessoas doentes. Não vejo nada na sua radiografia. Vamos fazer um teste de resistência no computador só para vocês ficarem tranqüilos. Pronto! Viram? Está tudo bem. A senhora tem 55 anos e os seus pulmões apenas 20. São muito jovens.

—  E o aparelho? E o meu cansaço? E a vacina? E a minha imunidade? O que vou fazer?

—  A senhora não tem que fazer mais nada, a não ser riscar esse meu colega da vida de vocês. Existem médicos terroristas que apavoram os pacientes para prendê-los em seus consultórios.

Anna Célia Dias Curtinhas

« Voltar