POUCO, IDEAL E EXCESSO
Para tudo que se usa, vive ou se experimenta nesta vida há o pouco, o ideal e o excesso.
Quer ver?
Uma barra de chocolate é pouco, duas ou três são deliciosamente ideais e a roupa apertada, o cinto que não fecha, a camisa que se abre é o excesso...
Acordar pela manhã com beijos e uma cesta de coisas deliciosas é o ideal, quem dera pudesse acontecer todo dia. Acordar sonolento pela poucas horas de sono e sair correndo para o trabalho é muito pouco para qualquer um de nós. Ser despertado pelo barulho do vizinho andando sobre seu teto, gritando com o filho pequeno ou as marteladas do pedreiro da obra ao lado é o excesso que todos nós gostaríamos de nos ver livres...
Mas tem mais, muito mais:
Depois daquele trabalho que tomou dias e noites, horas e mais horas de pesquisas e preocupações e ao entregá-lo ao chefe e não receber nem um “valeu” é pouco demais.
Também não há necessidade do trabalho feito constar no jornal da empresa, receber agradecimentos públicos de quase todo mundo...É o excesso que atrai a inveja.
Em contrapartida, receber os parabéns sinceros de seu superior imediato e um aumento no contracheque ao final do mês ou a promoção há tanto esperada é o ideal.
Um beijo é pouco, pouco demais eu diria. Encontrar-se com o beijoqueiro português que beija as celebridades e gente comum é um excesso que ninguém quer. Acordar com os beijos da mulher amada é o ideal de todo homem, ainda mais se estes beijos se prolongarem pelo resto do corpo...
Amar é bom, diria ideal. Não amar é pouco e odiar é excesso de peso, é o inverso do pouco da pior maneira.
Flores sem perfumes é muito pouco, é uma lástima que ninguém deseja ou quer. Um bouquet de rosas perfumadas e vermelhas é o máximo, as mesmas que ao murchar se torna o lixo que excede em qualquer casa.
Ao receber uma carta, um e-mail, um bilhete de alguém querido, o coração fica apertado de saudade e temos a certeza do tão pouco que é a saudade quando se quer ter alguém amado ao nosso lado. O ideal seria sair correndo e se encontrar com quem se ama verdadeiramente. O chato é quando as pessoas não se mancam, cobram de nós o que não dão a si mesmas. É o excesso.
Tem gente que não entende, é egoísta, é imatura. Não tem desconfiômetro. É a falta do bom senso. Tem sempre tão pouco bom senso.
Tem gente desconfiada até da sombra. Não escreve com medo de incomodar, não telefona para não ser intrometida. É excesso de desconfiança.
Tem gente apaixonante, gente que sabe dizer as palavras certas nas horas certas. Gente que sabe a hora de vir e a hora de ir. É o ideal. São as pessoas amadas de verdade.
Há a vontade de ser feliz e isto é o ideal. Há o desânimo, a preguiça, a apatia que torna cada um de nós, o mínimo que podemos ser. Há de existir a força de vontade para se corrigir nossos próprios defeitos. Há de existir o senso crítico sem excesso, nem deveria existir a falta de um pouco de inteligência e sensibilidade.
Há aqueles que são obesos, mas ninguém é gordo porque quer. Falta um metabolismo que a natureza não ofereceu ao indíviduo. Há as pessoas magérrimas, que tem anorexia e que querem ser cada vez mais magras. É o excesso da necessidade, seja física ou psicológica. Há os corpos desenhados por artistas. Corpos malhados, moldados e siliconados. Há saúde e excesso de preciosismo. Para uns o ideal é o objetivo ser alcançado de qualquer forma. Para outros, o ideal é o que a natureza nos ensina e nos propõe.
Meu ideal pode ser diferente do seu. Tal como o excesso ou a falta.
Quero minha casa em paz. Quero meus amores, sejam filhos, pais, irmãos ou minha mulher com saúde. Quero tranqüilidade para dizer “bom dia” e esperar pela hora do almoço, quando todos aqueles que amo, com certeza vão partilhar comigo, do alimento que temos em casa. Quero esperar pela noite, com segurança que todos irão voltar, alguns felizes e outros nem tanto, mas com palavras serenas e sorrisos leais que poderão dar a todos conforto e sossego para lutarem cada um pelos seus objetivos mais profundos.
Prefiro ter excesso de zelo a me confundir com a falta de atenção. Prefiro me preocupar excessivamente com meus problemas e lutar para dar um fim a minha tristeza, do que deixar meus queridos amores a se preocuparem comigo.
Em toda casa pode faltar dinheiro, pode faltar conforto ou fartura de alimentos, só não pode faltar lealdade e sinceridade.
Lealdade pressupõe amor. Caráter se traduz em berço. Boa vontade é sinônimo de carinho e atenção. Sorriso é o mesmo que felicidade.
Para uns é pouco.
Para outros é um excesso.
Para mim é o ideal.
Xande Rego