PORTAL DO TEMPO (Eternamente jovens)

Quando o celular tocou, o identificador de chamada não ajudou em nada...

Do outro lado, uma voz de outros tempos, mas de lembrança recente, lembrou que estávamos próximos de completar 30 anos de formatura do antigo primeiro grau!

— Que tal tentarmos reunir a turma para celebrar?

Não me lembro de uma idéia que tivesse soado tão agradável.

— Como você conseguiu meu telefone? – perguntei.

— Lembrei onde você morava, pedi o telefone de seus pais para um vizinho...

A idéia era excelente e topei de imediato!

De repente, os e-mails – milagre da Internet – e telefones começaram e se multiplicar; nomes e fatos perdidos na memória ganharam a nitidez da saudade; e de repente, eu me vi voltar no tempo, como se ele nunca tivesse passado.

Não era nem o fatídico 1964, nem o obscuro 1984... Era um despreocupado 1974, ao menos aos olhos de adolescentes, ainda ingênuos e cheios de esperança.

Estudávamos numa escola pública: EEPSG “Prof. Primo Ferreira”, num tempo em que ainda se fazia exame de admissão, e todos tínhamos orgulho de freqüenta-la.

Nas férias, os alunos eram convidados – e compareciam em peso – para ajudar na manutenção da escola: pintura, limpeza... Todos tínhamos nossas mentes e nossos corações nela!

Nossos passatempos eram frugais: jogos de bola, tampinha de garrafa e botões, espeto, queimada... Os trabalhos em grupo terminavam, invariavelmente, com lanches e brincadeiras.

Cada um tinha seus sonhos e os compartilhava, sem medo do futuro, com os outros. Tudo era possível!

De repente, alguns caminhos se separaram na estrada da vida, onde nem sempre temos o controle do destino. Mas o mundo dá voltas e, num lapso, vozes familiares voltam a ser ouvidas, ainda da calçada...

Quando a porta se abre, os olhos rejuvenescem 30 anos e só conseguem ver os mesmos rostos amigos, que surgem da bruma de um passado cuidadosamente guardado e saudoso.

Não são mais rostos imberbes e cabeleiras da moda; as calças não são mais “boca-sino”, nem as camisas psicodélicas; mas nem os cabelos brancos e quilinhos a mais são capazes de ocultar o olhar, que nunca mudou.

Estão quase todos lá: o roqueiro, que virou violeiro; as musas, que nunca deixaram de ser; os amigos e amigas, de estudo e brinquedo; as mesmas lembranças e os sonhos realizados. E eu ainda tenho tantos...

Uma tarde é pouco, mas a noite não apaga a luz desse dia, como o tempo não desfaz o que plantamos no jardim da memória.

É preciso voltar no tempo, para lembrar o valor de um abraço, de um sorriso e de um sonho; mas como é bom viver o presente, para sentir que algumas coisas ultrapassam, leve e calmamente, a barreira do tempo e o tornam relativo.

Um deles preparou, cuidadosamente, um vídeo com o que cada um enviou... Surpresa: Sua câmera passeou pelos mesmos corredores por onde desfilamos nossa pré-adolescência! Um efeito esmaeceu e descoloriu as imagens, mas os sorrisos iluminaram os rostos! Quem ainda não havia recordado de alguém, voltou no tempo e passou a enxergar com os mesmos olhos e não teve mais dúvidas. Todos havíamos rejuvenescido, como por encanto!

Fonte da juventude? Não! Bela juventude, como fonte!

As lembranças são mesmo assim: imagens que podem perder o foco, mas que não resistem a todo o novo olhar.

Foi pouco tempo para matar tanta saudade; mas foi tempo suficiente para plantar nova semente!

No olhar e sorriso de cada um a certeza de momentos futuros, que serão, com certeza, presentes... Mas que nunca serão passados!

Adilson Luiz Gonçalves

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