Santo Miojo

Será que o meu caro leitor, como eu, mora sozinho? Ou, mesmo que não more sozinho, faz parte daquela fatia da humanidade que não tem empregada, cozinheira ou mamãezona de plantão para cuidar da sua comida? Se pertence a esse time de descolados e independentes urbanos, deve concordar comigo no que vou afirmar: a criatura que inventou o miojo merecia ganhar o Prêmio Nobel de Química, e, de quebra, o da Paz.

O miojo é a salvação dos estômagos roncantes de fome, das lipotímias hipoglicêmicas depois de um dia de trabalho, do rói-rói das noites insones lendo ou navegando na Internet. Quem nunca apelou para essa maravilha da tecnologia? Uma maravilha que precisa somente de três minutos para ficar pronto e não lhe exige mais do que uma boca de fogão, alguns centilitros de água e uma panelinha qualquer? Além de tudo é baratíssimo e o seu preparo suja apenas uma vasilha; como a porção é individual, você serve no próprio prato que vai comer e temos, depois de terminada a refeição, apenas uma panela pequena e um prato para lavar. E se você não for de todo inábil na cozinha pode transformar o inocente pacotinho em uma fonte sem fim de prazeres gastronômicos.

Sou usuária do miojo e o consumo principalmente na sua forma simples, como vem na embalagem. Mas gosto de variar, misturando-o com aquele molho à bolonhesa de latinha, ou colocando duas colheres de sopa de requeijão assim que tiro do fogo. Quando estive doente, tendo que ingerir uma quantidade limitada de sódio, não podia usar o tempero que vem no saquinho; foi aí que inventei o miojo doce, com mel de abelha e castanhas moídas.

Há milhares de maneiras de preparar miojo e se você fizer uma pesquisa na Internet vai ver que existem blogs e mais blogs onde as pessoas trocam experiências e receitas sobre esse multi-camaleão culinário. Dessas receitas experimentei algumas, as mais interessantes, que quero compartilhar aqui com o meu leitor.

Preparando o miojo você pode incrementá-lo com duas colheres de sopa de creme de leite e uma colher de sopa de suco de limão; outra forma é juntar presunto em cubinhos, champignon picado e um leve toque de creme de leite. Para quem gosta de sensações mais picantes, é só polvilhar uma colher de chá de páprica picante depois do miojo pronto. Há uma receita inspirada na tradicional salada Capri, da Itália: basta picar um tomate, fatiar uma mussarela de búfala e juntar folhas de manjericão! Para um sabor mais oriental, prepare um miojo sabor camarão, jogue fora boa parte do caldo e junte um kani desfiado - é só enrolar com as duas mãos que ele desfia! Para o chamado miojo chinês, cozinhe dois ovos por quinze minutos em água fervente, deixe esfriar, retire a casca e passe pelo espremedor de batata ou pique com uma faca. Frite o miojo cozido com shoyu e junte os fios de ovos! E o miojo xadrez é bem parecido com aquele que eu inventei por não poder comer sal: cozinhe um pacotinho de miojo de frango; escorra o caldo; junte duas colheres de sopa de shoyu, uma colher de chá de mel e polvilhe com amendoim torrado.

Se você estiver vendo TV e tiver preguiça de se levantar para preparar a iguaria, passo-lhe a receita do miojo snack: abra o pacotinho, descarte o tempero, quebre o miojo e coma. Simples, não? Outra forma muito gostosa é, depois do miojo pronto, misturar com ketchup e parmesão: fica uma delícia! Experimente também não deixar cozinhar muito, para ter o seu miojo “al dente”; coloque no prato, regue com azeite de oliva, misture com algumas alcaparras e queijo ralado para um miojo chique e refinado.

Depois disso tudo, meu caro leitor, tenho certeza de que você é bem capaz de abandonar o saboroso almoço deste domingo por uma das nossas deliciosas receitas. Mas é bom que atente para uma última recomendação: miojo é comida de gente sozinha. Não adianta misturar dois ou três pacotinhos na panela. Não presta, perde o gosto, fica grudento e sem sabor. Miojo só tem graça se for feito um a um.

Clotilde Tavares

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