Ode aos homens de cinqüenta anos
Os homens de cinqüenta anos não vacilam, acontecem e pronto!
Eles já não têm medo de serem chamados de gay ou de se tornarem gays. São assumidamente homens e desfilam essa segurança como quem toma um chocolate quente no inverno.
Os homens de 30 e 40 têm muitos predicados, vontade férrea e uma noção de eternidade.
Mas aos 30 eles precisam exercer malabarismos e performances circences e aos 40 têm uma necessidade premente de permanecer e permanecer, mas ainda não sabem exatamente onde e nem porque...
Aos cinqüenta anos já são diplomados e esbanjam a segurança discreta que funciona como um magnete.
Já não se preocupam com volumes, extensões e prolongamentos, portanto costumam deletar os e-mails que evidenciam excessivamente o assunto. E nem se incomodam com os volumes e marcas alheios, nem nas mulheres.
Com as mulheres, são cúmplices e seguros e o prazer sentido e compartido é simplesmente uma continuidade normal da própria existência, sem esforços, por puro hedonismo inerente.
Com esses homens o diálogo não só é possível, como é farto, generoso, erudito e as palavras fluem de suas bocas dançando nuas e despudoradas, sem medo, sem ostentação, sem megalomanias. O homem de cinqüenta conversa, participa, cruza o olhar e toca enquanto fala, com doçura e sem pressa. Aliás,
um dos grandes encantos dos homens de cinqüenta anos é a absoluta falta de pressa, eles agem como um apreciador de bons vinhos e são mesmo de uma boa safra.
Trazem o corpo bem cuidado e caminham sem trejeitos, porém com a elegância de um puro sangue árabe, não correm, trotam apenas.
Por isso, caminham tanto e vão tão longe...
Trazem a mente bem cuidada, despojada de idéias preconcebidas e têm uma ligação mais suave com o espiritual e o corporal.
Dirigem com cautela, mas já possuem o dom e o talento para observar, controlar, desacelerar, deixar passar, parar e correr quando as estradas estão livres e bem sinalizadas, porque já têm o domínio das máquinas, sem precisar ostentar uma Ferrari.
Não se ligam às marcas apenas pelo modismo, os logotipos e caminhos eles mesmos vão elaborando ao longo dos aprendizados, das manobras e das convivências.
Mas, importam-se com as preferências apreendidas, como um apreciador de arte. Eles incorporam-se aos Modiglianis e Cézannes, possuem um estilo e uma modalidade própria, impressionam e permanecem.
Sua lista de Favoritos é interessante, atraente, excitante, mas também tem um quê de aconchego, calmaria, como o mar em um entardecer morno. Porém, eles sabem usar uma pitada de tempero apimentado e quente quando necessário. Sabem ser sagazes, mordazes, no entanto, sempre com uma dose perspicaz de ponderação e pimenta rosa, para não acirrar o gosto.
Eles sabem adormecer, abraçar e acordar ao lado de uma mulher. E geralmente o café da manhã eles preparam e servem...
Leila de Barros