APRENDER CIDADANIA
Existem inúmeras iniciativas e investimentos na área social. Governos, empresas, organizações não-governamentais e um crescente número de voluntários têm se empenhado na tentativa de resgate de um significativo contingente populacional que, por muitos anos, foi desprezado ou intencionalmente mantido pelas elites.
O objetivo primordial alegado por todos é garantir cidadania a todo o indivíduo, o que envolve valorização pessoal e consciência do coletivo! Mas todos precisam ter consciência de que a cidadania só é plena quando gera autonomia. As ações, portanto, não podem ficar limitadas a atos de caridade ou assistencialismo; o que exclui as abomináveis práticas seculares - e, infelizmente, ainda presentes - do "coronelismo" e dos senhores de engenho, tais como: mãos estendidas, para serem beijadas; olhares reverentes, patrulhados por jagunços; favores devidos, - nunca esquecidos e freqüentemente cobrados -, e toda a sorte de expedientes, que só podem ser classificados como escravidão.
Os tempos estão mudando, é fato, mas ainda ocorrem algumas distorções, sobretudo quando há segundas intenções. Ainda existem verbas desviadas ou "carimbadas", e entidades que prestam serviço condicionando ou constrangendo psicologicamente os teoricamente beneficiados.
Cidadania também pressupõe liberdade de escolha; portanto, vale o ditado: “O que a mão direita dá, a mão esquerda não veja!”.
O voluntariado é um instrumento fundamental no processo, pois proporciona uma efetiva integração social. Isto permite a derrubada de preconceitos, o intercambio de vivências e mútuo desenvolvimento. O voluntário, no entanto, tem que estar preparado e consciente de que sua atuação não deve ser encarada como um ato de estoicismo, caridade ou vaidade. Ele não deve exigir reconhecimento, obediência, nem cobrar gratidão por seus atos. Se o seu trabalho realmente contribuir para a evolução social, eles receberão algo parecido com isso, mas sob forma de amizade e parceria; e ambas são sinônimos de reciprocidade!
Mas como a gente identifica o resultado de um processo ou programa bem sucedido? Basta observar as atitudes dos envolvidos: O rosto, antes, “apagado” adquire um brilho contagiante; o olhar, antes cabisbaixo, se torna resoluto e esperançoso; o vocabulário flui naturalmente, com novos termos, bem aplicados; as comunidades se reúnem para fazer planos; saneamento, alimentação e educação passam a ser valorizados, como instrumentos indispensáveis aos próximos passos... Em suma, o indivíduo toma as rédeas da própria vida, e a comunidade se une em busca do bem comum. Não há mais espaço para atitudes demagógicas e oportunistas externas!
É fantástico ouvir sertanejos ou habitantes de uma comunidade carente urbana discorrerem sobre todas as etapas de um projeto social; sobretudo quando falam dos resultados, idéias, adaptações e iniciativas que surgiram dos próprios cidadãos. As carências ainda existem, mas são de outros tipos e encaradas de forma muito mais objetiva. As entidades são vistas como parceiras e demonstram o mesmo entusiasmo. Elas também têm segundas intenções e estão de olho, de acordo com sua natureza: nas verbas, subsídios e benefícios fiscais; e, também, lucros; mas um número crescente delas se envolve de fato no processo de aquisição de cidadania, que é, por si só, contagiante! Talvez sua principal descoberta é a de que não estão, apenas, cumprindo uma função social, fazendo marketing ou lucrando com inovações de baixo custo; mas participando efetivamente da construção um país melhor para todos!
É isso: A cidadania resgata a capacidade de sonhar, e dá disposição para fazer! E aprender cidadania – tal qual aprender a pensar - é como aprender a andar de bicicleta: No início, podem ocorrer alguns tombos e incertezas - nessa fase, não pode faltar coragem, nem incentivo -; depois vem o equilíbrio e o desenvolvimento da capacidade de manobrar, para contornar obstáculos; mas depois que se aprende, não se esquece nunca mais! E quando ninguém mais esquecer, ninguém mais será esquecido!Adilson Luiz Gonçalves