PIANO SEM CORDAS (*)
Creio que hoje, dado ao progresso dos últimos inventos, podemos dizer: uma lente ruim como um olho e um microfone insensível como um ouvido. Com as exigências trazidas pela requintada sensibilidade do microfone, os diretores do broadcasting não mais sabem onde melhor localizar certos instrumentos, a começar pelo piano.
Segundo uma informação do Science Service, o professor Lloyd Loar, depois de muitas experiências, acaba de inventar um piano sem cordas que está sendo construído em Kalamazoo, nos E.E.U.U. para solucionar o problema do aludido instrumento.
Os sons deste novo piano serão produzidos por umas cintas de aço, de poucos centímetros de comprimento, que se põem em vibração, eletricamente, produzindo um som praticamente puro.
Uma vez ferida, a nota será captada por indução magnética, passará por um amplificador de alta freqüência, de capacidade dez vezes maior que de um amplificador ordinário, e com uma potência de trinta "watts".
Graças ao sr. Lloyde Loar, muito em breve não mais teremos no broadcasting, pianos atacados de bronquite e pianos tuberculosos da laringe.
— E quando inventarem um piano sem som? Para algumas das nossas "emissoras" vai ser uma grande invenção!!!
O rádio-ouvinte mais prefere não ouvir piano a ouvi-lo desafinado...
Luís Antônio Pimentel
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(*) Esta crônica foi escrita em 13 de novembro de 1935, publicada nesta data na Gazeta de Notícias, e constante de "Crônicas do Rádio - Nos tempos áureos da Mayrink Veiga (1935 - 1937)", in Obras reunidas do autor, vol. 3, Niterói, Livros, 2004, RJ.