Uma que gosto é amigo antigo e que não gosto é amizade envelhecida
Uma coisa que gosto é de amigo antigo.
- Alô? - Nunca deixo o telefone tocar três vezes.
- Tudo bem, cara? - Diz a voz conhecida.
- Tudo belesma! - Respondo.
- Tem churrasco lá em casa no sábado.
- Oba! - Penso um segundo. - Ah, é seu aniversário!
- É. - Ele engrossa a voz. - Eu sei que é dia do seu futebol. Desculpe!
- Tudo bem!
- Você vai, né?
- Claro! - Acalmo meu amigo e me despeço. Não digo que por ele falto ao futebol a qualquer tempo. Não nos vemos há um ano pelo menos, e antes disso
os encontros eram esporádicos, mas quando nos reunimos nem precisamos de mais que um minuto para estarmos à vontade.
- Teu filho cresceu! - Eu disse, no churrasco de aniversário.
- E você fez novas tatuagens. - Ele respondeu.
- Onde tá a cerveja? - Eu perguntei.
- Você não quer cachaça? - Ele rebateu.
Amigo antigo encaixa igual sapato velho. A conversa parece continuar de onde havia parado. Fica mais fácil viver.
Uma coisa que detesto é amizade envelhecida.
Um dia depois do churrasco lembrei do aniversário de outra pessoa: uma jovem amiga.
Apertei a campainha da casa da garota, cumprimentei seu pai, a chamei e a abracei. Ela me olhou e logo perguntou:
- O que você está fazendo?
- Nada. - Respondi.
- Eu agora sou uma mulher responsável. - Ela explicou. - Mais velha e independente.
- Ah é? - Perguntei. E dei corda. - Você namora há tempos, não?
- Sim. Há dois anos e meio.
- Que bacana! Qual seu curso na faculdade mesmo?
- Agronomia.
- Ah, legal. - Mudei de assunto. - Diga para o Zé estou esperando o texto dele. - Zé era o irmão dela, meu amigo há mais tempo que ela mesma.
- O Zé tá escrevendo? - Ela disse, com dúvida e curiosidade nos olhos.
Adorei vê-la se lembrar que eu a conhecia muito bem, era amigo de seus familiares e sabia perfeitamente como estava a vida de todos. Melhor que ela
própria, pelo visto. O tipo que ela representava caiu despedaçado.
- Vou indo, então. Girei nos calcanhares e me fui. Lembrei-me de beijá-la para despedir-me, pois ela era a aniversariante. Foi mal. Estalei uma
bitoca no cocoruto de sua cabeça. - Tchau.
Na próxima vez que nos virmos, teremos que nos falar como pessoas que não se vêem há tempos, não mais como velhos amigos.
Uma perda para o meu hall dos amigos antigos!
Giovani Iemini
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