Diz Amor
PC. Partido Comunista ou Personal Computer?? Trabalho com TI e já fui do PCB. Marxista, Brizolista, Linuxista e tantos outros rótulos de contra-cultura e resistência que às vezes me acho um carro de Fórmula 1, diversos são os patrocinadores da minha retórica me levando a ser um qualquer-coisa-pensante descaracterizado de mim mesmo.
Aquela tarde, depois de um café com os “donos” da universidade, fiquei por instantes lamentando o fato de eu não ter nascido em Paris. Seria tão mais fácil! Parece que por lá os problemas são menores e as pessoas mais civilizadas. Foda-se! Assim comecei meu e-mail para um amigo de infância que mora em Nova Iorque. Talvez um antiamericanismo adormecido tenha despertado de maneira explosiva e se misturado ao mau-humor repentino, mas ele é gente boa, vai entender...
Happy hour, mais uma expressão do léxico americano que eu tenho de aturar, fazer o quê? “Desce mais um chope Carlito que hoje eu tô legal, numa daquelas crises existenciais.” “Pode deixar meu caro filósofo!” “É, a filosofia tem me custado caro ultimamente.” Respondi colocando o néctar goela abaixo. A secretária nova, terceirizada, não me saía da cabeça. Que morena! Após agradável almoço, marcamos um teatro, Dostoievski, ela escolheu e provou que não era daquelas que só têm embalagem. Noite agradável, esticada na Lapa, dança de salão. “Boemia, aqui me tens de regresso”. Agora num boteco de Bonsucesso, busco com as loiras de sempre respostas que nunca bastam, embalado pelo burburinho quintafeiriano e as costumeiras encarnações do futebol. Ah! Essa vida perigosa que dá voltas e mais voltas, sempre do nada ao nada. Não entendo porque eu gosto de gastar meu tempo lendo Platão e cia. Que merda de vício! Depois do oitavo chope, decidi caminhar a ermo pelos caminhos que se cruzam e se estendem sob meus pés, favelas ladeando dúvidas, querendo abraçar o tolo com sua filosofia social distorcida e as pseudodelícias farmacológicas. O leão-de-chácara do puteiro da esquina lança seu olhar desafiante e convidativo, sigo em frente, próxima parada: ponto de ônibus na Av. Brasil. Chego em casa tropeçando em elucubrações variadas e atesto minha condição de ser pequeno. O sono é um tanto conturbado, com sonhos desconexos e pesadelos de vidas passadas.
Amor! A palavra me surge fosse revelação divina. Cinco e meia da manhã. “Amor, Amor e Amor!” repito pra mim mesmo num arroubo de felicidade inefável. Um banho morno, Djavan, café quente e forte. Parto mais leve. Encontrei minha missão nesse mundo.
André Salviano
«
Voltar