UNIVERSO E CONQUISTA
Quando pensávamos que a Terra fosse o limite, deparamo-nos com um telescópio estratosférico, bisbilhotando cada partícula existente no Universo e foi aí que caímos na real e percebemos que nem mesmo o céu é o limite. Essa conquista do éter e dos corpos celestes foi historicamente retardada por
causa de uma gigantesca campanha sofrida há alguns séculos pela humanidade contra a possibilidade de se permitir a Ciência. Não sabemos dizer se hoje seria pior ou melhor estarmos invadindo outros sistemas planetários, com naves capazes de quase atingir a velocidade da luz, como pretensos senhores da matéria universal. Nesse contexto, Deus, apesar de posto em segundo plano, mesmo assim, presenciaria a difusão de igrejas verdadeiramente universais, onde nos reuniríamos periodicamente para agradecer por mais um planeta habitável descoberto, por mais uma estrela capaz de fornecer generosamente sua energia para a nossa proliferação.
Até onde realmente poderemos ir? Qual é o verdadeiro limite? Seria a imaginação? E se num desses mundos encontrássemos vida? Primeiramente, a
negociação: se tal civilização fosse hostil, teria de ser aniquilada para o nosso próprio bem (talvez, como os índios, algumas comunidades conseguiriam sobreviver dilaceradas). Se fosse amigável, nos aproximaríamos e aos pouquinhos nos fixaríamos, tirando-lhes o que fosse bom para nós. É isso aí! Aqueles que partissem para essa aventura jamais iriam achar a cordialidade intergaláctica uma virtude. Não adianta nos iludirmos, mesmo porque, quando isto ocorrer, estaremos aproveitando mais objetivamente nossos cérebros, com muito menos tempo para os contratempos do emocional. Mas pode ser também que, enfim, a nossa saga seja interrompida por seres mais evoluídos e mais poderosos, capazes de rastrear a nossa origem até chegar à Terra, onde despejariam todo o ódio adquirido com a nossa tentativa de inquilinismo extraterrestre. Jogando raios tal qual Zeus, só que definitivamente destruidores, capazes de pulverizar o nosso passado e nos deixando sem chances de começar tudo outra vez.
Voltemos aos nossos dias. O que significa pisar na Lua antes do inimigo? Será que seremos sempre movidos pela rivalidade e pelas doses exacerbadas de ambição? E agora que nos parece não haver mais dicotomias no nosso velho planeta? O que as conquistas extraterrenas procuram mostrar? Na verdade, isto pouco importa. O importante é que seremos cada vez mais grandiosos diante da fabulosa criação de Deus. O telescópio gigante permanece em órbita, como se fosse o olho mágico de nossas portas, mostrando coisas espetaculares que até então eram proibidas para as crianças habitantes desta casa confortável e ampla. Os românticos, que já viam isso tudo pelas suas próprias lentes, foram e continuam sendo ignorados, apesar de a sua ótica provavelmente ser a menos lesiva para todo este equilíbrio desequilibrado.
Que fique, então, nas nossas memórias, a visão lúdica das conquistas obtidas pelos pioneiros dessa eterna viagem em busca dos confins tangíveis do
Universo. É difícil conseguir novas palavras que mencionem Galileu Galilei e Nicolau Copérnico sem que nos deparemos com redundâncias. Também não conseguiria analisar por outro ângulo a aventura da cadela Laika, o deslumbramento de Yuri Gagarin e a alunagem de Neil Armstrong. Talvez,
pudesse dizer que todos nós estamos sendo tremendamente poéticos até hoje, mesmo que tenhamos sido escudos de outras intenções. Apesar de tudo, fomos muito mais líricos do que épicos, quando analisamos todas as outras mazelas feitas pelo homem.
Certa vez, numa rara oportunidade que tive de ir a Londres, pude escolher entre visitar um planetário ou o Museu de Cera de Madame Tussaud. Escolhi o museu. Por quê? Creio que por ser um homem comum, muito mais preocupado em relatar aventuras turísticas do que em voltar para casa dizendo ter visto uma estrela vésper e algumas galáxias longínquas e frias na terra do "fog". Até hoje, acredito ter agido certo, apesar de ainda não ter visitado um
planetário. Mas isto não significa o meu desprezo pelo espaço sideral. Pelo contrário, sou capaz de ficar olhando por horas e mais horas para o céu noturno, achando que tal cenário vai estar sempre à minha disposição e que todas as estrelas cadentes, que tiverem de cair, cairão, permitindo a sorte
e o desejo. Nós, homens comuns, somos muito possessivos e imediatistas e certamente é por isto que só conseguimos ser mal e parcamente lembrados durante as nossas próprias existências. Mesmo assim, muitas vezes sacrificando algumas pessoas para que isto aconteça.
Felipe Cerquize