O SEVERINO PODE SER UM ET

Nada acontecia de novo até que há pouco o Sérgio Machado, da Comunicar, me repassou um e-mail vindo da cidade do México dando conta de uma invasão de ufos, mais de 500 em formação, filmados por um cinegrafista amador. Imediatamente embarquei numa onírica viagem interplanetária e acionei todos os malucos de plantão aficionadas por ets como eu e, logicamente, botei um tempero de emoção, ligando para alguns antes de repassar a mensagem. Então, por 20 minutos vivi uma euforia extraterrestre onde pude curtir algo mais do que Severino na primeira página de O Globo.

Por alguns instantes esqueci a letargia e o noticioso oficialesco do governo. Abstraí o poderoso complexo de comunicação que dita uma verdade realimentada da própria demagogia populista socialista da qual é o porta-voz, impedindo o surgimento de opiniões contrárias, novas idéias, ideais, horizontes e o aprofundamento de argumentos, de discussões filosóficas, instigantes dialéticas e toda uma riqueza cultural e contra-cultural que responda e justifique a grandeza do nosso território e das raças que formam a nossa nação.

De certa maneira ou na incerteza de uma inocência perdida vende-se a idéia de que não haja outro caminho a não ser o do grande complexo comunicativo, tão onipresente que não é atingido e tem poder para mudar as leis do monopólio nesta área. Considerado tão gigantesco que o discurso do impedimento de sua inadimplência é argumento para impedir a própria falência da nação. Hoje em dia, ao comemorar os seus 40 anos de existência, é um poder tão assustador quanto o regime de exceção democrática que apoiou nos anos 60 e se serviu durante todo este tempo para agigantar o seu império, quando colocou um esquizofrênico na presidência no lugar do sindicalista que agora apóia incondicionalmente.

Por mais que se abasteça dos melhores profissionais do mercado, a complexidade das relações de mercado, o poder das verbas publicitárias do governo que acabam desaguando nas centenas de subsidiárias das Organizações, impedem o surgimento de uma riqueza cultural que facilite agregar, através de novas formas de abordagens evolucionistas, conhecimentos e tecnologia de ponta, capazes de nos levar a uma atuação mais convincente no papel das superpotências. As fraudes dos fiscais nas primeiras páginas não surgiram pelo jornalismo investigativo e sim foram repassadas pelo próprio governo.

Dessa forma a mesma organização que faz a cobertura oficial do encontro de Cúpula dos Países Sul Americanos e Países Árabes, em Brasília, não dá destaque para a marcha de 200 quilômetros dos 11 mil membros do Movimento dos Sem Terra perto dali e praticamente desdém a greve dos funcionários do Ministério da Cultura que entra no seu segundo mês. É com esta atitude em duas questões tão delicadas que o governo e o seu órgão de divulgação pretendem se alinhar ao clube das superpotências. Se vai colar o tempo dirá. O certo é que por aqui qualquer coisa que digam ao público interno passa a ser verdade, até o fato de que o Severino pode ser um et.

Luiz Carlos Pires

« Voltar